"Quando te preocupas com o "bom" e o "mau" dos teus companheiros, crias uma abertura no teu coraçao por onde o mal entrará. Testar, competir e criticar os outros enfraquece e te derrota. Ferir um oponente é ferir a si mesmo. Controlar a agressão sem produzir ferimentos é a Arte da Paz." (Morihei Ueshiba).

domingo, 13 de novembro de 2011

A profecia de Nostradamus começa.

  1. Por razões que serão explicadas abaixo e também nas páginas 166-9, é provável que muitas da mais lúgubres predições das Centúrias sejam relativas a uma época que está realmente muito próxima - especialmente às primeiras décadas do século 21 e, possivelmente, relacionadas com o fim dos anos 1990. Um dos mais horripilantes desses prognósticos sombrios pode ser encontrado na Centúria VIII, Quadra 77, que se refere a uma guerra que durará não menos que 27 anos. Sua última linha diz: "Granizo vermelho, água, sangue e cadáveres cobrem a terra". A maioria dos estudiosos atuais de Nostradamus concorda que essa linha se refere a um conflito que envolverá armas atômicas e/ ou biológicas. Obviamente, o uso de armas assim teria o efeito de juncar a terra de cadáveres. Quanto ao granizo vermelho e à água distinguidos por Nostradamus, seriam ou de um aerossol deliberadamente usado para espalhar infecções bacterianas, ou água atmosférica contaminada por precipitação radioativa decorrente de uma explosão nuclear (ou ambos). Na pior hipótese, a precipitação poderia até ser produto de deliberado "polvilhamento" radioativo de toda uma área, por meio de uma arma excepcionalmente suja - um dispositivo nuclear revestido de uma capa de cobalto.
  2. A suposição de que a chuva do granizo vermelho da morte sobre o nosso planeta está próxima é retirada do conteúdo da Centúria I, Quadra 16, que prevê "praga, fome e morte pelas mãos de militares" em uma época em que os séculos "se aproximam de sua renovação". 
  3. Por razões que serão explicadas abaixo e também nas páginas 166-9, é provável que muitas da mais lúgubres predições das Centúrias sejam relativas a uma época que está realmente muito próxima - especialmente às primeiras décadas do século 21 e, possivelmente, relacionadas com o fim dos anos 1990. Um dos mais horripilantes desses prognósticos sombrios pode ser encontrado na Centúria VIII, Quadra 77, que se refere a uma guerra que durará não menos que 27 anos. Sua última linha diz: "Granizo vermelho, água, sangue e cadáveres cobrem a terra". A maioria dos estudiosos atuais de Nostradamus concorda que essa linha se refere a um conflito que envolverá armas atômicas e/ ou biológicas. Obviamente, o uso de armas assim teria o efeito de juncar a terra de cadáveres. Quanto ao granizo vermelho e à água distinguidos por Nostradamus, seriam ou de um aerossol deliberadamente usado para espalhar infecções bacterianas, ou água atmosférica contaminada por precipitação radioativa decorrente de uma explosão nuclear (ou ambos). Na pior hipótese, a precipitação poderia até ser produto de deliberado "polvilhamento" radioativo de toda uma área, por meio de uma arma excepcionalmente suja - um dispositivo nuclear revestido de uma capa de cobalto.
  4. A suposição de que a chuva do granizo vermelho da morte sobre o nosso planeta está próxima é retirada do conteúdo da Centúria I, Quadra 16, que prevê "praga, fome e morte pelas mãos de militares" em uma época em que os séculos "se aproximam de sua renovação".
  5. Essa última expressão é forte indicação de que houve uma deliberada referência de Nostradamus a teorias esotéricas relativas a ciclos astrológicos e cronológicos, que ele quase certamente conhecia - especialmente o conceito neoplatônico de um "Grande Ano", que consiste em doze "meses", cada um de aproximadamente dois mil anos do nosso tempo ordinário. Se "a renovação dos séculos" apontada na Centúria I, Quadra 16, realmente se aplica ao "Grande Ano" dos platonistas, é provável que ela indique que a data para a confirmação da profecia de "praga, fome e morte pelas mãos dos militares" coincida exatamente com o que alguns ocultistas modernos chamam de "a transição da era de Peixes para a era de Aquário" - isto é, alguns anos antes ou depois do ano 2000, já que a data precisa desse evento é um tanto incerta, por depender de que um astro fixo em particular seja considerado como marco do início do zodíaco. Esse é um marco técnico, tema de debate entre aqueles que se aprofundam na teoria esotérica, mas a essência do assunto é bem clara: a profecia de Nostradamus a respeito de praga e da fome universais está perto de se cumprir. Outras quadras das Centúrias parecem confirmar essa interpretação, por exemplo a Centúria I, Quadra 91, que diz: Os deuses tornarão evidente para a humanidade Que são os planejadores de uma grande guerra: Antes disso, os céus estavam livres de espée et lance O maior dano será imposto à esquerda. As palavras deixadas na forma original do francês, na terceira linha, implicariam literalmente que o céu se tornaria, de modo muito improvável, obscurecido por espadas e laas, na grande guerra vaticinada pelo vidente. É provável, portanto, que a expressão foi
  6. usada para ser tomada figurativamente por aqueles que a lessem quando o acontecimento previsto estivesse próximo e que, por" espée et lance", o estudioso contemporâneo pode entender "armas e mísseis". O provável significa da expressão "a esquerda”, usada por Nostradamus na quarta linha da quadra, será examinado nas páginas 189-91; aqui basta dizer que é possível, mas improvável, que o vidente a tenha utilizado em seu sentido político moderno, que data do final do século 18.
  7. A GRANDE ESTRELA QUEIMA
  8. A Centúria II, Quadra 41, é de muito interesse, no que se refere às profecias de deflagração, por volta da virada do século 20 para o século 21, de grandes conflitos mundiais com o envolvimento de armas nucleares e biológicas. Essa quadra diz: A Grande Estrela ferverá por sete dias, Sua nuvem fazendo com que o Sol pareça ter imagem dupla: O grande cão uivará durante toda a noite Quando o Papa mudar de habitação. Em uma tentativa de determinar a época em que sucederá o acontecimento previsto, identificou-se a "Grande Estrela” da primeira linha como sendo o retorno do cometa Halley. Entretanto, é difícil crer nessa interpretação, porque as duas últimas aparições desse cometa foram tão pouco espetaculares que ele foi quase invisível a olho nu. Parece bem mais provável que a "Estrela” será a explosão de uma bomba de fusão extremamente grande. Essas bombas produzem energia exatamente pelo mesmo processo que ocorre no interior da maioria das estrelas - a transmutação de hidrogênio em hélio. Em uma bomba de fusão feita pelo homem, entretanto, a explosão não "ferve" por uma semana nem produz uma imagem solar dupla. Possivelmente, há referência a toda uma série de ataques nucleares, mas uma explicação mais provável é que a metáfora de "fervura” utilizada por Nostradamus indica uma enorme nuvem de pó laada por bombas de fusão, que levará um tempo muito longo para cair, mesmo parcialmente, de volta na terra.
  9. Conforme sugerido pela interpretação da última linha da Centúria VIII, Quadra 77, que foi dada nas páginas 162-3, Nostradamus previu que os primeiros anos do novo milênio seriam marcados pelo espalhamento de cadáveres sobre a terra, como resultado de guerra atômica ou bacteriológica. Mas como deve ser interpretado o restante da mesma quadra? Considerada por inteiro, a quadra diz: O Anticristo bem depressa aniquila os três, Vinte e sete anos sua guerra durará, Os hereges são mortos, aprisionados, exilados, Granizo vermelho, água, sangue e cadáveres cobrem a terra. A identidade dos "três" que o Anticristo aniquilará é um mistério para todos os estudiosos das Centúrias; já se disse que são três grandes potências mundiais ou três grandes líderes, espirituais ou temporais. Mas, sejam o que ou quem forem esses três, quem são os hereges mencionados na terceira linha e qual é o significado da palavra "Anticristo" conforme foi usada na primeira linha?
  10. É melhor tentar responder à última questão primeiro. De acordo com as crenças cristãs tradicionais, o Anticristo está destinado a ser um falso salvador que servirá aos grandes Príncipes do Inferno, infligirá grandes estragos ao mundo e liderará grande parte da humanidade por caminhos destrutivos que, muito literalmente, resultarão em danação. Embora essa crença seja muito antiga, ela ainda é mantida atualmente por alguns, e vale a pena lembrar que em um passado comparativamente recente, um homem culto e devoto como o Cardeal Manning (1808-1892) fez uma série de palestras a respeito do Anticristo e expressou sua convicção de que alguns dos
  11. eventos mais estranhos ligados à emergência do espiritualismo moderno poderiam indicar que o Advento infernal - o nascimento do Anticristo - era iminente.
  12. Estivesse o cardeal certo ou errado sobre suas convicções, parece não haver dúvida de que Nostradamus adotava conceitos teológicos que eram, em essência, idênticos àquelas convicções. É de importância central que quem se dedique a interpretar as quadras das Centúrias em que Nostradamus mencionou o Anticristo tenha constantemente em mente que as idéias sobre a vinda do contra- Cristo, o "filho da perdição", eram parte da "imagem de mundo" de Nostradamus, como de qualquer cristão culto de sua época. Deve- se admitir, conseqüentemente, que, se Nostradamus podia ver o futuro, ele interpretaria sua visão de pessoas e acontecimentos desagradáveis em termos de um conceito que lhe era familiar - ou seja, o advento do Anticristo, a manifestação de um salvador falso, operador de milagres, cujos discípulos seriam servos das Potências e Principados do Inferno. Em outras palavras, da mesma forma que Nostradamus parece ter procurado descrever armamentos do século 20 em termos das coisas materiais e da tecnologia militar que conhecia (ver páginas 117-20, com relação à Centúria I, Quadra 64), ele teria também tentado descrever as atitudes morais, bem como as ações decorrentes delas, que a maior parte de nós caracterizaria como absolutamente desumanas e relacionadas ao princípio eterno do mal, em termos da escatologia (crenças e ensinamentos religiosos a respeito do fim do mundo) do século 16. Nas páginas seguintes, veremos como essas crenças se conjugam com as profecias de Nostradamus que parecem referir-se à vinda de um aterrorizante "Anticristo Supremo", em data logo após o ano 2000.
  13. O MESSIAS DO MAL Desde a época em que o cristianismo dava seus primeiros passos, a palavra "Anticristo" vem sendo usada para descrever qualquer pessoa extraordinariamente má. Embora Nostradamus e outros cristãos do século 16 tenham empregado a palavra nesse sentido, para eles o Anticristo Supremo seria um messias do mal - um profeta de maldade realmente infernal. As opiniões de São Roberto Bellarmine (1542-1651) com respeito às origens do Anticristo foram representativas da visão mantida pelos teólogos que viveram mais ou menos na mesma época de
  14. Nostradamus. Bellarmine acreditou que o pai do Anticristo seria um incubo - isto é, um demônio que tem relações sexuais com mulheres - e que sua mãe seria uma praticante da magia negra. Um frade dominicano do século 17 asseverou que o Anticristo que estava por vir seria além de filho de um demônio: [...] malévolo como um louco, com uma perversidade como nunca foi vista na terra [...] ele tratará os cristãos como as almas condenadas são tratadas no inferno. Ele terá uma profusão de nomes de sinagoga, e será capaz de voar quando quiser. Belzebu será seu pai, Lúcifer seu avô. Na época de Nostradamus, as crenças escatológicas (ver página anterior) a respeito das experiências mundiais supostamente destinadas a ocorrer antes do Juízo Final estavam quase que inextrincavelmente ligadas ao conhecimento tradicional sobre eventos os quais se acreditava que iam preceder ou iam vir após a manifestação do Anticristo. Isso significa que é quase certo que
  15. Nostradamus tenha interpretado como manifestações de um Anticristo as visões clarividentes que teve das doutrinações e das ações de Hitler, de Stálin ou de algum governante absolutista que ainda esteja para assumir o poder. Nesse contexto, vale atentar para uma determinada passagem da "Epístola a Henrique II", que foi impressa juntamente com a primeira edição das Centúrias e que, como está descrito na página 85, fornecia uma data específica e totalmente correta dos acontecimentos da época da Revolução Francesa. Essa passagem faz um relato deprimente dos eventos que, segundo Nostradamus, precederiam o mandato daquele que ele chamou de "o terceiro [i.e., o Supremo] Anticristo". Escrevendo sobre um "Rei" (que nesse contexto significa um governante absoluto de qualquer tipo) que cometeria grandes crimes contra a Igreja, o vidente afirmou que esse homem-monstro: [...] terá derramado o sangue de mais homens da igreja do que se poderia fazer com vinho [...] Sangue humano correrá nas igrejas e nas ruas, como a água após chuva pesada, e tingirá de sangue os rios próximos [...] e então, no mesmo ano e nos anos seguintes, seguir-se-á a mais terrível peste, ainda mais virulenta por causa da fome que a precederá, e tanto sofrimento como não terá existido igual desde a fundação do cristianismo. [...] O grande Vigário do Manto [o papa] estará solitário e abandonado por todos [...] Depois disso o Anticristo será o príncipe diabólico [...] todo o [...] mundo será sacudido por vinte e cinco anos [...] e as guerras e batalhas serão atrozes [...] e tantas crueldades serão cometidas por Satã [...] que quase todo o mundo será desfeito e arruinado.
  16. Exceto pela menção ao Anticristo como "príncipe diabólico" e pela referência a um mundo devastado em conseqüência de muitos males cometidos por Satã, não há nada nessa profecia em prosa que não possa ser tomado como descrição de uma futura série de acontecimentos políticos. Uma vez que se aceite que há uma possibilidade genuína de que Nostradamus e outros videntes e profetas podiam discernir a configuração de eventos futuros (ou talvez sentir o que está acontecendo em uma realidade alternativa - ver páginas 245-8), a passagem não contém nada que force demais a credulidade de seus leitores. Ela poderia perfeitamente ser uma descrição profética de um futuro ditador monstruosamente mau - uma versão posterior e mais bem-sucedida de Hitler ou de Pol Pot - que conseguirá dominar acontecimentos mundiais por um período de um quarto de século. Não seria de surpreender que um homem como Nostradamus, conhecedor apenas da tecnologia e da medicina do século 16, imaginasse que um ditador assim, tendo sob seu comando todos os benefícios de uma ciência pervertida, de armas nucleares a bombas carregadas de antraz, não fosse um homem, mas um diabo - o Anticristo ou um precursor dele.
  17. Alguns estudiosos de profecias e dos escritos de Nostradamus em particular afirmam - por razões interpretativas que são complexas demais para ser sequer esboçadas nestas páginas - que o advento do monstruoso governante descrito pelo vidente em sua "Epístola a Henrique lI" está para acontecer em breve. Além disso, identificam esse "Rei" como sendo o terceiro e grande Anticristo. Eles acreditam, como acreditava Nostradamus, que essa criatura vil está destinada a derramar "o sangue de mais homens da Igreja do que se poderia fazer com vinho". Supõem que suas horríveis atividades, que resultarão no início da "mais horrível peste, ainda mais virulenta por causa da fome que a precederá", se relacionem com uma guerra bacteriológica. Argumenta-se que o terceiro Anticristo será, quase certamente, a mesma pessoa que vai ser responsável pela descida do Rei do
  18. Terror vindo do céu em julho ou talvez agosto de 1999 (ver páginas 202-6). Se esse for realmente o caso, os prognósticos do futuro iminente de todos nós são muito sombrios. O FILHO DA PERDIÇÃO O terceiro Anticristo, o ser que, na profecia de Nostradamus, fará sangue "correr nas igrejas e nas ruas como a água após chuva pesada", foi identificado por muitos intérpretes das profecias com um "filho da perdição", citado no Novo Testamento como alguém que enganaria muitos com "maravilhas mentirosas". O texto referido é o trigésimo capítulo do último livro da Bíblia, a Revelação de São João Divino. Ele descreve uma "segunda besta”, que os comentaristas tradicionalistas do Novo Testamento alegam ser a mesma entidade infernal do Anticristo. Essa passagem diz: [...] E eu vejo outra besta [...] e ele falou como um dragão. E ele [...] faz com que a terra e os que vivem nela reverenciem a primeira besta [...] E ele faz grandes maravilhas, de tal sorte que faz fogo do céu sobre a terra [...] E engana aqueles que vivem na terra por meio desses milagres que ele tinha o poder de fazer [...]
  19. Como foi contado nas páginas 154-69, Nostradamus previu que as primeiras décadas do terceiro milênio seriam caracterizadas por guerras, peste, fome, por um ressurgimento do Islã militante e pela aparição de um líder político-religioso de tal malevolência que o vidente o identificou como "Anticristo". Inevitavelmente, uma época descrita por Nostradamus com tais funestos detalhes não deixará o cristianismo tradicional incólume, mas este conservará, está profetizado em mais de uma quadra das Centúrias, a capacidade de reagir - para ser exaltado à vista de alguns, ainda que humilhado à vista de outros. Nesse contexto, a Centúria I, Quadra 15, é relevante. Ela diz: Marte nos ameaça com força de guerra, Setenta vezes isso provocará derramamento de sangue: O clero será tanto exaltado como arrastado para baixo Por aqueles que nada desejam aprender dele. Em outras palavras, seguindo-se a uma série de guerras, o cristianismo e seus líderes serão arrastados para baixo, com certo
  20. sucesso, por aqueles que são adversários ideológicos da fé tradicional do Ocidente ("que nada desejam aprender"). Mas haverá uma reação a favor do cristianismo histórico, que exaltará, ou elevará às alturas, a lideraa da Igreja Militante. Nostradamus talvez tenha dado uma pista interessante da natureza das guerras que, segundo ele, ocasionariam esses conflitos religiosos, com o uso da expressão "setenta vezes isso provocará derramamento de sangue". É improvável que ele estivesse empregando o número 70 em sentido literal e, embora a intenção possa ter sido apenas indicar um número muito grande de conflitos, também pode ser que ele estivesse fazendo referência ao significado do 70 em termos da numerologia cabalística cristã, de que ele devia ter conhecimento.
  21. O número 70 tem, supostamente, conexão mística com palavras do hebraico e do caldeu que significam "noite", "vinho" e "segredo"; isso sugere a possibilidade de que Nostradamus estivesse admitindo que os responsáveis por muitos dos conflitos prognosticados seriam devotos de uma fé que ensinasse coisas que os cristãos considerariam "segredos escuros, noturnos" e praticassem rituais envolvendo o uso de vinho e, talvez, de drogas estranhas. Há uma descrição enigmática de um daqueles que estão destinados a liderar ou inspirar a ressurgência tradicionalista, na Centúria I, Quadra 96, que diz: Um homem receberá a tarefa de destruir Templos e seitas alterados por [estranhas] fantasias: Ele causará mais dano às pedras que aos vivos, Enchendo ouvidos com eloqüência. Não fica claro se a tarefa de destruição que será dada a alguém, conforme diz essa profecia nas duas primeiras linhas, lhe será imposta por outros seres humanos ou por algum poder sobrenatural. Mas a natureza do trabalho é evidente - destruir, total ou parcialmente, pseudo-religiões fantásticas que terão enganado a muitos. Nessa interpretação, deve-se presumir que o culto liderado pelo maligno que o vidente chamou de "terceiro Anticristo" está destinado a ser o mais notável desses "templos alterados por fantasias".
  22. O HOMEM DA MÁSCARA DE FERRO Foi sugerido a este autor por um intérprete nostradamiano contemporâneo (o numerologista esotérico mencionado na página 161) que, à parte a simples proximidade, existe uma conexão oculta na Centúria 1, entre a Quadra 96 (ver página anterior) e a Quadra 95. Essa conexão, derivada de doutrinas cabalísticas relativas a uma relação entre as combinações de letras do alfabeto hebraico e manipulações numéricas especiais de um antigo instrumento ocultista chamado "a cabala das Nove Câmaras", - levou esse esoterista a aventar que o líder religioso que destruirá "templos e seitas alterados por fantasia” e "encherá ouvidos com eloqüência” deve ser identificado com uma misteriosa criaa mencionada por Nostradamus na Centúria I, Quadra 95, que diz:
  23. Ante um monastério será encontrada uma criaa gêmea, Descendente de uma antiga linhagem monástica: Sua fama e poder nas seitas e eloqüência E tal, que dirão que o gêmeo sobrevivente é o eleito [o escolhido] por direito. Muitos comentaristas do século passado - e alguns de hoje também basearam suas interpretações dessa quadra na lenda de que Luís XIV da Fraa era filho ilegítimo do Cardeal Mazarin e tinha um irmão gêmeo idêntico, e que para evitar disputas sobre a sucessão ao trono seu irmão foi aprisionado desde tenra idade, até morrer como o calado, idoso e não-identificado prisioneiro conhecido pela história como "o Homem da Máscara de Ferro". Entretanto, pesquisas modernas mostraram que essa antiga interpretação da Quadra 95 estava errada, pois embora o homem da Máscara de Ferro tenha de fato existido, ele não era o irmão gêmeo de Luís XIV. Conseqüentemente, não existe razão para que o sujeito dessa quadra não possa ser o mesmo líder cristão tradicionalista da estrofe seguinte. Se com o tempo isso se mostrar correto, é provável que sua descendência "de uma antiga linhagem monástica” provará ser uma referência simbólica a suas crenças, e não uma descrição literal de sua ascendência.
  24. No período que se seguiu à queda do império de Napoleão III em 1870, alguns dos nostradamianos franceses eram também dedicados Legitimistas - partidários de uma restauração, ao trono da Fraa, do representante da linhagem Bourbon mais antiga. Esse monarquismo os levou a fazer um estudo intenso de algumas quadras das Centúrias que contêm referências a um homem que Nostradamus denominava "o grande Chyren" e que aqueles intérpretes, empregando muitos argumentos inteligentes, identificavam como o Conde de Chambord, que era na época o Pretendente (ao trono) da linhagem Bourbon mais antiga.
  25. Podemos ter certeza de que essas interpretações estavam erradas, pois essa linhagem Bourbon se extinguiu na década de 1880, mas não pode haver dúvida de que Nostradamus previu, sob o codinome "Chyren", o advento de um certo francês que exerceria imensa influência para o bem, tanto sobre seu próprio país como sobre o mundo. De acordo com alguns nostradamianos de hoje, esse francês pode bem ser o já citado tradicionalista destruidor de falsas religiões (ver páginas 174-6) e um papa cuja eleição foi prevista na Centúria V, Quadra 49, que diz:
  26. Não da Espanha, mas da antiga Fraa Será escolhido [eleito] o que guiará o trêmulo barco [a barca do papado], Ele fará uma garantia ao inimigo, Que provocará uma vil pestilência durante seu reino. Não houve nenhum papa francês desde antes do nascimento de Nostradamus; portanto sabemos que essa profecia ainda não foi cumprida. O conteúdo da primeira linha da quadra é muito curioso, pois embora faça sentido que Nostradamus desse a nacionalidade do papa, parece não haver uma boa razão para que achasse apropriado declarar que o papa não seria espanhol. A explicação mais provável é que a quadra vaticine um cisma iminente e que em breve haverá dois pretendentes ao papado - entre os quais Nostradamus considerou legítimo o de origem francesa. A última linha, com sua sugestão de armas químicas ou biológicas sendo utilizadas contra os partidários do verdadeiro papa, é desagradavelmente coincidente com outra quadra que profetiza que tais armas serão utilizadas pelo terceiro Anticristo.
  27. OBSCURIDADES PROFÉTICAS Um assunto de debate entre os estudiosos das Centúrias é se o homem destinado a destruir o que o vidente, olhando o futuro distante, considerou serem templos dedicados a uma fé falsa e fantástica (ver páginas 175-6) pode ser o mesmo que foi chamado de "Grande Chyren" e/ou o papa francês que conduzirá o trêmulo barco do papado (ver páginas 177-8). Entretanto, a menos que as
  28. muitas profecias do vidente relativas ao terceiro Anticristo estejam totalmente erradas, não pode haver dúvida de que os principais oponentes do "destruidor" tradicionalista cristão cujo advento foi vaticinado na Centúria I, Quadra 96, serão o agourado messias do mal, seus discípulos e aqueles que se aliam a ele. Várias estrofes de Nostradamus tornam evidente que Nostradamus acreditou que o terceiro Anticristo seria um asiático de nascimento, e o lugar desse acontecimento ou, em outra alternativa, o lugar em que o poder do Anticristo estará centrado, se encontra provavelmente profetizado na Centúria IX, Quadra 62, que por complexas razões numerológicas, está associada ao conceito do Anticristo. Ela diz: Ao grande homem da ágora Cheramon Todas as cruzes serão ligadas conforme a classe, O ópio e mandrágora pertinazes [provavelmente significando "de efeito perpétuo"] Rougon será laado em três de outubro. Essa quadra, expressa de modo tão obscuro como qualquer quadra das Centúrias, muitas vezes foi interpretada pelos comentaristas modernos como referência a técnicas mágicas secretas que envolvem o uso de drogas alucinógenas ("ópio e mandrágora”) e palavras que os magos do mundo antigo chamavam de "palavras bárbaras de evocação" - duas das quais seriam "ágora Cheramon". Essa interpretação provavelmente está errada por dois motivos. O uso que o vidente fez da expressão "ópio e mandrágora pertinazes" implica que ele não estava empregando o nome dessas drogas alteradoras da consciência em sentido literal; ao contrário, estava tentando expressar, em palavras correntes no seu tempo, que o
  29. sujeito da quadra usaria como armamento substâncias causadoras de frenesi, coma e morte - em outras palavras, empregaria exatamente o mesmo tipo de arma química associada ao Anticristo em outras quadras. Em segundo lugar, "ágora (o mesmo que praça, mercado) Cheramon" não é uma "Palavra de Poder" do ocultismo; era o nome clássico de um obscuro vilarejo na região que hoje é a Turquia, e as "cruzes" que Nostradamus previu que estariam "ligadas a ele conforme a classe" constituem provavelmente a hierarquia da seita liderada pelo pseudo-messias. A última linha da quadra parece predizer que o terceiro Anticristo fará um ataque usando venenos químicos ("Rougon") em um 3 de outubro precisamente datado. É uma pena que Nostradamus não tenha sido igualmente preciso sobre o ano do acontecimento!
  30. Como os leitores deste livro já terão percebido, pelo conteúdo de algumas quadras parece que Nostradamus profetizou que os anos imediatamente anteriores ou posteriores ao ano 2000 constituirão uma época de crises contínuas e sem precedentes. Estamos fadados, assim predisse o vidente, a suportar uma época de tormenta política e social, cismas e guerras - em grande parte motivados por religião levados a efeito com armas químicas e bacteriológicas. É quase certo que, se esses acontecimentos previstos de fato ocorrerem, eles resultarão direta ou indiretamente em uma desastrosa queda de todas as economias do mundo e em miséria, fome, doença e morte para centenas de milhões de pessoas. Não é de surpreender que o vidente tenha profetizado exatamente tais acontecimentos - praga, fome, a degradação das moedas e conseqüentes tumultos e distúrbios civis.
  31. N. da T.: O Forte Knox é a casa da moeda americana. É provável que em todas as décadas de todos os séculos, desde os primórdios da humanidade, pessoas tenham morrido de fome em alguma(s) parte(s) da terra - e qualquer vidente que tenha feito uma profecia sem data, sobre fome futura em um determinado país, deve ter tido a certeza de que um dia ela seria cumprida. As Centúrias, de fato, contêm algumas profecias desse tipo - por exemplo, é prevista uma onda de fome no Irã, na Centúria I, Quadra 70, que diz:
  32. Chuva, fome e guerra sem cessar na Pérsia, Confiaa muito grande trairá o monarca, Os assuntos iniciados na Gália também terminarão lá, Um augúrio secreto para alguém ser poupado. Interessante - e possivelmente ligado a desenvolvimentos futuros a ser observados na República Islâmica do Irã -, mas seu significado preciso é vago demais para que seja interpretado com razoável perspectiva de sucesso, ainda que não totalmente, antes que sucedam os acontecimentos eles mesmos. Por outro lado, há uma profecia nostradamiana de uma penúria mundial de particular severidade, que parece ser referente a uma época de sublevação política, religiosa e econômica que o vidente previu para os anos em torno da virada do século 20 para o século 21. Essa profecia deprimente é feita na Centúria I, Quadra 67, que diz: A grande penúria que sinto aproximar-se Se repetirá com freqüência [em determinados países] e então se tornará universal: Tão grande será ela, e durará tanto tempo Que eles [os famintos] comerão raízes de árvores e roubarão criaas do seio.
  33. Esta última linha pode significar que os famintos tirarão criaas do seio para sugarem o leite eles mesmos - ou pode ser que Nostradamus tenha profetizado uma fome de tal severidade que o canibalismo será praticado em escala considerável pelo mundo todo! Essa escassez está destinada a ser acompanhada de uma inflação igualmente generalizada, em que o dinheiro de papel perca completamente o valor - pelo menos é o que parece pela Centúria VIII, Quadra 28. Essa estrofe diz:
  34. Os simulacros [imagens ou reproduções] de ouro e prata inflacionados, Que após o roubo [do valor real] foram laados ao lago, A descoberta de que tudo está destruído pelo débito Todos os títulos e cautelas serão cancelados. Como o dinheiro de papel, "simulacro de ouro e prata”, era desconhecido na Europa na época em que Nostradamus estava escrevendo as Centúrias, a primeira linha da estrofe é notável por si mesma; se a profecia toda estiver destinada a se mostrar correta, essa inflação que se aproxima será a mais total e devastadora que o mundo já conheceu, pois não apenas o dinheiro de papel se torna sem valor, mas "todos os títulos e cautelas" - em outras palavras, toda a riqueza, exceto propriedades reais e outras riquezas materiais - serão eliminados.
  35. Em uma situação como essa, seria provável que houvesse um desejo universal de conseguir, sob alguma forma, o único meio de troca fácil de carregar - ouro e outros metais preciosos. Esse desejo, acompanhado da raiva contra os banqueiros, que seriam apontados como culpados pela situação econômica que teria resultado em pauperismo geral, poderia sem dúvida resultar em distúrbios civis, tumultos e saques de prédios vinculados a instituições financeiras.
  36. Uma tal erupção de fúria candente de um povo contra um sistema que eles achem que lhes tenha tirado tudo aparentemente está prevista na Centúria X, Quadra 81, que diz: O tesouro é colocado em um templo por cidadãos das Hespérides [América] Apartado dentro dele para um lugar secreto de guarda, O templo será arrombado por penhoras [significado incerto] famintas Recapturada, raptada, uma presa terrível no meio [dele?]. Cofres de bancos e construções modernas semelhantes para armazenamento de metais preciosos eram, é claro, coisas desconhecidas para Nostradamus, que pode ter utilizado a palavra "templo" para se referir a um cofre - nos tempos clássicos era bastante comum que os cidadãos guardassem suas riquezas nos templos dos deuses. Como o "templo" citado nessa quadra fica na América, a estrofe toda é, provavelmente, uma descrição profética de um violento ataque ao Forte Knox, cujos cofres contêm a maior parte das reservas de ouro dos EUA.
  37. Existe - e talvez sempre tenha existido - uma tendência entre os comentaristas de Nostradamus para ajustar determinadas previsões a acontecimentos que estiveram no noticiário em tempos comparativamente recentes. Embora essa tendência tenha sido responsável pela identificação de alguns notáveis acertos de previsão, como a quadra sobre o Grande Incêndio de Londres (ver páginas 59-62), é uma tendência que guarda seus perigos. Primeiro, o intérprete tende a começar a distorcer a estrofe já torcida do vidente, para fazer com que ela se ajuste a acontecimentos que ocorreram na época do intérprete. Em segundo lugar, às vezes acontece que o intérprete abandone todo o bom senso e chegue à conclusão de que Nostradamus fez um grande número de profecias a respeito de acontecimentos que ocorreram centenas de anos após a sua morte e que são, exceto na mais curta das escalas cronológicas e na mais paroquial das perspectivas, quase irrisoriamente insignificantes.
  38. Essa tendência levou mais de um estudioso atual das Centúrias a saudar a Centúria X, Quadra 49, como uma predição do acidente nuclear americano que teve lugar há alguns anos na usina de energia de Three Mile Island - o acidente, até o desastre de Chernobyl, mais sério ocorrido no mundo. A quadra em questão diz: Jardim do mundo perto da cidade nova, Na estrada das montanhas ocas, Será agarrado e jogado dentro do tanque, Forçado a beber água envenenada com enxofre. Os que alegaram que essa profecia se refere à emergência de Three Mile Island afirmam que a "cidade nova" da primeira linha é Nova York (o que, de fato, é quase certamente o caso - ver página 191), que as "montanhas ocas" da linha dois foi a maneira encontrada por Nostradamus para descrever arranha-céus percebidos por ele em visão e que as linhas três e quatro se referem à ameaça que o acidente poderia ter representado ao abastecimento de água de Nova York, em conseqüência da precipitação radioativa. Pode ser, mas mesmo que se aceite, como aventou um intérprete, que o "enxofre" da quarta linha deva ser entendido como o princípio alquímico que leva esse nome (a essência do abrasador "elemento" da destruição, do qual a radioatividade descontrolada é uma manifestação especial), e não como um composto do elemento químico enxofre, a previsão dificilmente pode se aplicar aos efeitos do incidente de Three Mile Island. O fato simples é que, embora os acontecimentos acidentais ocorridos ali tenham ameaçado com o desastre uma grande área do nordeste dos Estados Unidos, eles foram controlados de tal forma que nenhuma catástrofe ocorreu de
  39. fato, e o suprimento de água de Nova York ou de outro lugar qualquer não foi envenenado. No entanto, com suas menções à "cidade nova” (que, por consenso, era a forma como Nostradamus descrevia Nova York), a quadra pode parecer aplicável ao envenenamento (literal) dos reservatórios de água de Nova York ou de algum centro populacional próximo a
  40. ela. A menos que a profecia que Nostradamus fez na Centúria X, Quadra 49, estivesse totalmente errada - e devemos lembrar que alguns dos prognósticos do vidente parecem mesmo ter sido bastante errôneos (ver páginas 265-8) -, esse acontecimento pertence ao futuro, pois certamente ainda não aconteceu. O conteúdo dessa profecia, obviamente, não é de natureza a dar qualquer indicação da data provável de seu cumprimento, mas considerações numerológicas e outras parecem ligá-la a algumas outras quadras que se referem a acontecimentos previstos para os últimos anos do século 20 e os primeiros anos do seguinte. Em outras palavras, essa profecia sobre habitantes de Nova York ou outros americanos estarem em uma situação em que não têm escolha senão "beber água envenenada com enxofre" relaciona-se à época das profecias relativas a guerras santas dos militantes islâmicos, ao terceiro Anticristo, conflitos mundiais e escassez (ver páginas 154-61). Portanto, é provável que, se a profecia da água envenenada tiver de se cumprir, isso ocorrerá (a) em algum momento num futuro próximo, provavelmente entre 1995 e 2005, e (b) em conseqüência de um ataque militar contra os Estados Unidos. Também é provável, em vista do conteúdo da primeira linha da estrofe - "Jardim do mundo perto da cidade nova” -, que o envenenamento tenha maior impacto sobre o estado vizinho, New Jersey, chamado de "o estado jardim", do que sobre a própria Nova York. Se as usinas de purificação de água fossem derrubadas por bombardeios, como aconteceu em Bagdá durante a Guerra do Golfo, a água do abastecimento poderia ficar poluída de tal maneira que seria perigoso beber dela. Entretanto, isso poderia ser facilmente contornado com o cuidado de ferver a água antes de usá-
  41. la; então o uso que Nostradamus fez da expressão "forçados a beber" sugere um envenenamento de natureza bem mais grave do que simples poluição - mais provavelmente pelo uso de armas químicas ou nucleares. A primeira hipótese seria a mais provável se a palavra "enxofre" fosse entendida literalmente, pois existem alguns compostos de enxofre de enorme virulência. Se, entretanto, houve intenção de que a palavra fosse entendida simbolicamente, é mais provável que a profecia se relacione com venenos radioativos e com um ataque nuclear aos EUA Em relação à possibilidade de um ataque nuclear, o conteúdo da Centúria VI, Quadra 97, examinada em detalhe nas páginas a seguir, é de grande e assustadora pertinência.
  42. Nenhuma parte da área terrestre continental dos Estados Unidos jamais sofreu os efeitos diretos da guerra moderna, o que significa dizer de uma guerra que emprega armamentos aéreos e mísseis terra-a-terra. Embora desde 1917 até hoje inúmeras famílias americanas tenham sofrido os efeitos de guerras estrangeiras - que vão desde dificuldades econômicas aa dor sofrida pela morte de vizinhos, amigos e parentes -, o único dano diretamente infligido à área continental do país por forças militares estrangeiras, desde 1814, foram os insignificantes problemas impostos à costa oeste, na Segunda Guerra Mundial, por bombas laadas de submarinos japoneses, e, ainda mais superficiais, dispositivos incendiários laados por balão desde o outro lado do Pacífico. Está previsto nas Centúrias que essa relativa imunidade às devastações da guerra moderna, que afetam a população civil, não está programada para durar muito tempo mais, pois Nostradamus profetizou que a série de conflitos mundiais que ele viu começar por volta da virada deste século - em algum momento entre 1995 e 2004, se aceitarmos a cronologia nostradamiana aceita pela maioria dos estudiosos contemporâneos das Centúrias - infligiria um volume
  43. imenso de danos à América e a seus povos. Tome-se, por exemplo, a previsão de um conflito global contida na Centúria I, Quadra 91, cuja transcrição está na página 163. A última linha dessa quadra diz: "O maior dano será imposto à esquerda”. A palavra "esquerda” muito provavelmente não foi usada pelo vidente em seu sentido político moderno - embora não se possa eliminar totalmente essa possibilidade, pois em algumas de suas profecias cumpridas, ele parece ter usado a palavra "vermelhos" em seu sentido moderno de "revolucionários socialistas", e não no sentido mais normal no século 16, que seria "cardeais romanos". É possível, ainda, que dizendo "esquerda” Nostradamus quisesse apenas indicar o antagonista de motivação mais sinistra, pois a acepção latina original da palavra "sinistro" é "esquerdo".
  44. Parece mais provável, entretanto, que o vidente tenha feito referência ao tipo mais comum de mapa do mundo, que era usado em seu tempo e que, na verdade, ainda é o mais usado. Nesse desenho essencialmente eurocêntrico, o hemisfério norte é mostrado no alto do mapa e o "hemisfério ocidental" - as Américas - fica à esquerda. Se o profeta fez, como parece praticamente certo, uma referência geográfica desse tipo, a última linha da Quadra 91 da Centúria I pode ser parafraseada, no contexto das três primeiras linhas, dizendo-se: "Na guerra mundial profetizada, feita com uso de mísseis e outras armas de combate aéreo, o maior dano será sofrido pelas Américas". Essa interpretação do significado da última linha da estrofe se torna mais verossímil pelo conteúdo de uma quantidade surpreendentemente grande de outras profecias feitas nas Centúrias - por exemplo, a Centúria VI, Quadra 97, que contém também uma referência claramente geográfica: O céu arde a 45 graus, O fogo se aproxima da grande cidade nova, Uma chama enorme, espalhada, salta bem alto Quando querem ter prova [ou indicação] dos normandos. Muitas vezes é difícil ter exata certeza sobre o que está sendo dito por Nostradamus nas estrofes sobre o nosso futuro, mas no caso dessa quadra somente o significado da última linha parece estar sob alguma dúvida maior (ver quadro abaixo). A referência a "quarenta e cinco graus", na primeira linha, deve ser relativa à latitude e/ou
  45. longitude aproximada (talvez numa extensão entre 40º e 50º) de alguma determinada área da superfície da terra; não é sensato entendê-la como uma referência astronômica relativa à elevação ou a um certo grau zodiacal, por exemplo, pois nesse caso o restante da quadra ficaria sem sentido. Como referência geográfica referente a uma latitude e/ou longitude entre as linhas de 40 e 50 graus, 45 graus pode aplicar-se a diferentes regiões, entre elas áreas de produção de petróleo no Oriente Médio e uma enorme porção dos EUA, inclusive todo o estado de New England e Nova York. Pode ser que essa seja uma das predições duplas de Nostradamus, que se aplica a essas duas partes do mundo, mas a menção à "grande cidade nova" na segunda linha da quadra deixa claro que a implicação principal da profecia é quanto aos EUA, pois todas as outras menções a uma "cidade nova”, nas quadras, parecem referir-se a Washington, a São Francisco ou, mais comumente, a Nova York. Há de parecer, assim, que as linhas dois e três são uma profecia de um amplo ataque nuclear aos EUA (que poderia coincidir com um acontecimento semelhante no Oriente Médio), no qual Nova York será danificada - e talvez totalmente destruída - pela "chama que se aproxima”. NORMANDOS E HOMENS DO NORTE Como foi explicado acima, a Centúria VI, Quadra 97, parece conter uma profecia específica de um ataque nuclear a Nova York e outras áreas dos Estados Unidos. Somente o significado da última linha da quadra, "quando querem ter prova [ou indício] dos normandos", parece ser assunto de debate.
  46. Alguns famosos nostradamianos, entre eles Erika Cheetham, entenderam essa linha como possível referência ao envolvimento militar e diplomático da Fraa em acontecimentos ligados ao bombardeio de Nova York. É possível, mas a palavra "normandos" deriva de uma palavra do nórdico antigo que significa simplesmente "homens do norte"; portanto, é perfeitamente possível que a linha indique não a Fraa, mas uma coligação do norte asiático - talvez uma liderada pelo "terceiro Anticristo" de Nostradamus.
  47. NOSTRADAMUS E A ERA DO TERROR O FILME O PARQUE DOS DINOSSAUROS TEM COMO TEMA A RECRIAÇÃO DE MONSTROS ANTIGOS, EXTINTOS HÁ MILHÕES DE ANOS. NOSTRADAMUS ACREDITAVA QUE MONSTROS EM FORMA HUMANA, MORTOS HÁ MUITO TEMPO - TAIS COMO GÊNGIS KHAN - RETORNARIAM PARA PAVONEAR-SE SOBRE A TERRA EM UM FUTURO PRÓXIMO DE NÓS. Como foi demonstrado no capítulo anterior, são realmente sombrias as profecias de Nostradamus que provavelmente se referem à segunda metade da década de 1990 até um bom trecho do século 21 - uma ameaça de penúria mundial de muita profundidade, de muitos de nós acabarmos comendo raízes das florestas e/ou praticando canibalismo; de guerras combatidas com armas químicas, bacteriológicas e nucleares; da pior inflação jamais vista pela humanidade; e de todas as conseqüências econômicas e sociais dos excessos do fanatismo religioso. Em resumo, essas profecias indicam a iminência de uma era de monstruoso terror e de um horror quase sem abrandamento. É de tal forma assustadora a natureza do que Nostradamus profetizou para nós e para nossos filhos - ou, pelo menos, o que a maioria dos nostradamianos atuais acredita ser o que o vidente profetizou para nós - que mesmo o mais dedicado admirador das Centúrias e do currículo de seu autor deve ter a esperaa de que ele estivesse inapelavelmente errado; ou, melhor ainda, de que os intérpretes da obscura linguagem das quadras que parecem ser cronologicamente relativas ao presente tenham entendido mal seu significado ou mostrem ter errado em alguns séculos o cálculo da
  48. escala de tempo apropriada. Isso há de ser ainda mais esperado em razão da natureza funesta de muitas das predições comentadas nas páginas a seguir. Tais predições compreendem: um grande desastre, talvez envolvendo armas de fusão, que ocorrerá no mesmo momento de uma edição iminente dos Jogos Olímpicos; a intervenção, nos
  49. negócios mundiais, de certo horror - que pode ser um indivíduo ou uma coisa material -, ao qual Nostradamus deu o enigmático codinome de "Rei Reb"; movimentos religiosos sinistros; mais guerras e penúria; e um sombrio futuro para a Rússia. Nem tudo é assim deprimente, pois embora Nostradamus pareça ter profetizado muitas desgraças para os anos à nossa frente, ele também parece ter acreditado que um dia, muito depois de todo esse sofrimento, os seres humanos viverão em felicidade e viajarão entre as estrelas. Os estudiosos atuais fazem uma espantosa afirmação acerca das estranhas quadras proféticas de Nostradamus. Eles alegam que em duas delas - Quadra 74 da Centúria X e Quadra 50 da Centúria I - o vidente previu que, à época dos Jogos Olímpicos de 2008, antigos cultos secretos que há muito se acreditava estar extintos ou guardados por um punhado de ocultistas esquisitos demonstrarão
  50. seu poder ao mundo. Essas seitas estranhas são de natureza pagã, relacionam-se com a necromancia (o culto dos mortos), vão assumir uma característica sangrenta e, em 2008, poderão ser lideradas pelo indivíduo que está destinado a ser o responsável pela vinda do "Rei do Terror" (ver páginas 202-6). Eis aqui, portanto, pelo valor que possa ter, uma paráfrase dessa interpretação das duas quadras, das quais foram extraídas as conclusões proféticas sensacionais e alarmantes estampadas na primeira página deste capítulo. A Quadra 74 da Centúria X diz: O ano do grande sétimo número revolvido Aparecerá na época dos jogos da Hecatombe Não longe do grande Milênio,
  51. Quando os mortos deixarão seus túmulos. "Não distante do grande Milênio" é entendido com o significado de "perto do (i.e., a não muitos anos do) ano 2000". Isso poderia significar tanto antes como depois do ano do milênio. Entretanto, como o ano exato que Nostradamus quis indicar fica depois de um ano terminado em sete ("O ano do grande sétimo número revolvido", isto é, finalizado), aplica-se à previsão uma data subseqüente ou a 1997 ou a 2007. Como Nostradamus escreveu sobre o grande sétimo número, obviamente era a 2007, e não a 1997, que o vidente se referia; dessa maneira, o acontecimento previsto, ou seja, o momento em que, metafórica ou literalmente, os mortos deixarão os túmulos, ocorrerá imediatamente após 2007, muito provavelmente no ano de 2008.
  52. A segunda linha da quadra confirma que é 2008 o ano bem indicado para o cumprimento da profecia: ''Aparecerá na época dos jogos da Hecatombe". Uma hecatombe - a palavra deriva de um termo do grego clássico que significa literalmente "cem bois" - é um grande sacrifício público de sangue, que envolve o abate ritual de muitas vítimas. Nos primórdios da Grécia clássica, esse sacrifício público era realizado no início dos Jogos Atléticos periódicos que se realizavam em Corinto e em outras cidades. Esses jogos, dos quais os mais conhecidos eram os que tinham lugar no Olimpo, eram muito mais do que simples "jogos", no sentido moderno da palavra; eram festivais pagãos solenes freqüentados por atletas de todas as áreas de língua grega do Mediterrâneo oriental. Os Jogos Olímpicos originais eram ligados aos cultos da deusa do submundo, Demétria (as únicas mulheres admitidas nas Olimpíadas eram suas sacerdotisas), e da deusa da Lua, Selene, que provavelmente derivaram de um culto primitivo de fertilidade. Perto do final do século 4, todos os Jogos, inclusive os realizados em Olimpo, foram suprimidos pelo Imperador Teodósio, que era cristão, como todos os imperadores da segunda metade daquele século - à exceção de Juliano, o Apóstata. Isso foi feito em razão da natureza pagã de todos os Jogos e do fato de que era profundamente ofensiva ao recato cristão a convenção de que os atletas participantes dos Jogos deviam competir nus. O ato do imperador trouxe um fim a todos os Jogos que ainda eram, pelo menos em nome, os "jogos da Hecatombe", embora os sacrifícios, na verdade, pareçam ter deixado de ser executados muitos anos antes. Existe alguma coisa, hoje, a que a expressão "jogos da Hecatombe" usada por Nostradamus possa se aplicar? Bem, certamente não existem jogos públicos nos quais se sacrifiquem animais aos antigos
  53. deuses, mas as Olimpíadas modernas foram estabelecidas, em 1896, como uma deliberada revivificação, após cerca de 1500 anos de quase esquecimento, do maior de todos os "jogos da Hecatombe" - os realizados em Olimpo e relacionados com os cultos de Demétria e Selene. O primeiro dos Jogos Olímpicos restaurados programado para ocorrer após 2007 - "o ano do grande sétimo número revolvido" citado na primeira linha da Quadra 74 da Centúria X - será o que deve ocorrer em 2008. É nesse ano que algo - seja quem ou o que for - "aparecerá" e que, real e/ou simbolicamente, "os mortos se levantarão de seus túmulos". Por razões complexas, esse "algo" que aparecerá é identificado como sendo uma pessoa mencionada na Quadra 50 da Centúria I, que será examinada nas páginas a seguir.
  54. As três grandes fés religiosas que Nostradamus e seus contemporâneos conheciam eram o islamismo, o judaísmo e o cristianismo, para as quais são dias santos, respectivamente, a sexta-feira, o sábado e o domingo. Mas na Quadra 50 da Centúria I Nostradamus se refere a alguém que não é seguidor de nenhuma dessas três religiões, pois a quadra diz: Do Trígono da Água nascerá Alguém que celebrará quinta-feira como seu dia santo, Sua fama, aclamação e poder crescerão Na terra e no mar, provocando Tormentas no Oriente. A primeira linha dessa estranha profecia simplesmente nos conta algo sobre as influências astrológicas destinadas a ser proeminentes no horóscopo da pessoa a quem a previsão se refere (ver quadro nas páginas 200-1). Mas o que dizer da segunda linha da quadra, que descreve essa pessoa como "alguém que celebraa quinta-feira como seu dia santo"? A forma exata de paganismo ao
  55. qual essa pessoa pertencerá é incerta, mas em razão da referência a mortos que deixam seus túmulos, existente na última linha da Quadra 74 da Centúria X, é provável que essa seita envolva a restauração de um antigo culto aos mortos talvez, à vista da referência a "tormentas no Oriente", a alguma forma degenerada de tantrismo da mão esquerda ou um culto de Bon. As interpretações das duas quadras tanto em relação mútua quanto em relação a outras profecias de Nostradamus são evidentes e podem ser resumidas assim: nos primeiros anos do novo milênio, uma influência nova e poderosa estaagindo no mundo - um líder
  56. político malévolo que será também um líder religioso, ou, de qualquer modo, um líder quase religioso. Presume-se que seus seguidores o verão como um gênio espiritual, e é bastante evidente que ele nem sequer alegará ser cristão, muçulmano ou judeu, pois está descrito que será alguém "que celebraa quinta-feira como seu dia santo". No ano 2008, esse governante se engajará em uma ação, ou ações de grande e desagradável importância. Há boas razões para associar provisoriamente o "Rei do Terror" de 1999, tratado nas
  57. páginas 202-6 (ou, ainda, a pessoa que coloque em ação uma realidade qualquer que tenha sido simbolizada por essa expressão), com aquele cuja fama cresce a tal ponto que se seguem "tormentas no Oriente" - a menos que, e até que, o curso da história demonstre que as descrições se referem a duas pessoas completamente diferentes. Entretanto, isso parece improvável; é bem mais possível que aquele que venha a levantar "tormentas no Oriente" - que, nesse contexto, deve-se presumir que sejam sublevações religiosas, sociais e políticas, e não tempestades meteorológicas - mostre ser a mesma pessoa que aquela que há de ser o "Rei do Terror" ou estar ligada a ele. É bastante provável, também, que ele seja o mesmo “Anticristo" mencionado como sendo alguém ligado ao "Rei Reb", na Quadra 66 da Centúria X. O TRÍGONO DA ÁGUA Segundo a astrologia tradicional, os doze signos do zodíaco são divididos em quatro trígonos, ou trios de signos. Cada trígono é atribuído a um dos "elementos" do conhecimento esotérico antigo - Terra, Ar, Fogo e Água. Os signos zodiacais do trígono da água são Câncer, Escorpião e Peixes; portanto Nostradamus estava indicando na primeira linha da Quadra 50 da Centúria I que esses signos seriam importantes no horóscopo do personagem. Talvez, por exemplo, a pessoa em questão nasceria com ascendente Escorpião, com o Sol e Mercúrio em Peixes e a Lua em Câncer. Em outras palavras, Nostradamus estava prevendo que um futuro governante teria um mapa astral dominado por planetas e pontos astrológicos supostamente significativos em signos do zodíaco pertencentes ao trígono da água.
  58. Em certas circunstâncias, um tal horóscopo poderia parecer realmente muito sinistro a alguém que aplicasse a ele as normas astrológicas que estavam em voga na época em que Nostradamus praticava a astrologia, que então ainda era chamada de "a ciência celestial" em geral considerada abaixo apenas da teologia em importância.
  59. Se, por exemplo, Sol e Marte estivessem no ascendente, no signo aquático de Escorpião, no mapa astral de um indivíduo, um astrólogo competente do século 16 assumia que essa pessoa era brutal, sanguinária, propensa a iras furiosas, altamente sexuada, sagaz e enganadora - ou, no jargão de nossa época, um sociopata altamente inteligente, extremamente astuto e anormalmente violento. Isso levanta uma possibilidade interessante. Pode ser que Nostradamus não tenha discernido, em visão, o horóscopo do indivíduo que ele descreveu, mas simplesmente obteve uma impressão do caráter dele ou dela e, com base em seu conhecimento das leis astrológicas, inferiu que o infausto
  60. governante deveria fatalmente ter o tipo de mapa de nascimento que então indicou.
  61. Até hoje a humanidade não experimentou uma guerra em que um enorme número de pessoas - combatentes ou civis - tenha morrido pelos efeitos de armamento químico ou nuclear. Embora em um grande número de ocasiões tenha utilizado gás tóxico (cloro, fosgênio e mostarda) durante a Primeira Guerra Mundial, as mortes causadas por seu uso foram surpreendentemente poucas; e embora tenham sido usadas bombas nucleares contra Hiroshima e Nagasaki em 1945, o número de civis mortos nessas duas cidades foi pequeno em comparação com os que já tinham morrido em outros pontos do Japão em conseqüência de bombardeio convencional. Essa situação não está destinada a durar - ou, pelo menos, é o que parece pelo conteúdo da Quadra 72 da Centúria X, pertencente àquela pequena minoria de quadras em que Nostradamus deu uma data específica para um acontecimento futuro. Ela diz:
  62. No ano 1999 [e] sete meses, Do céu virá um grande Rei do Terror, Ele ressuscitará o grande Rei de Angolmois, Antes e depois, Marte reina contente. Tal como está, essa quadra de Nostradamus é bem mais fácil de interpretar do que muitas outras. Primeiro, no sétimo mês de 1999 (isto é, julho ou talvez início de agosto), o Rei do Terror virá do céu e trará de volta à vida o Rei de Angolmois. Segundo, tanto antes como depois da vinda do Rei do Terror, "Marte reina contente" - um trecho bastante óbvio do simbolismo profético, significando que nos meses anteriores e posteriores à descida do Rei do Terror o mundo será devastado por conflito armado.
  63. Entretanto há ainda alguns enigmas. Quem é o Rei de Angolmois? E como será ele trazido de volta à vida por um Rei do Terror, e quem ou o quê, exatamente, é este último? "Angolmois" pode ser lida simplesmente como uma província francesa (ver páginas 210-3) ou pode ser entendida como um bom exemplo do tipo de trocadilho que é muito recorrente nas quadras - a invenção de uma palavra ou nome aparentemente sem sentido que é ou um anagrama ou, mais comumente, um anagrama imperfeito da palavra real que o vidente tinha em mente. Nesse caso em particular, “Angolmois" pode ser lida como um anagrama imperfeito da palavra mongolois, do francês antigo, ou seja, "mongóis". Ora, o maior de todos os governantes mongóis foi Gêngis Khan, que teve a fama de ser monstruosamente cruel e destruidor. Certamente ele conquistou um grande império para si e, ao fazê-lo, foi direta ou indiretamente responsável pela morte de milhões de seres humanos. Em outras palavras, parece muito provável que com a expressão "o grande rei de Angolmois" Nostradamus estivesse indicando Gêngis Khan. Entretanto, não parece provável que o vidente estivesse predizendo que o misterioso Rei do Terror literalmente restauraria a vida do governante mongol; ele estava dizendo que o Rei do Terror seria um outro Gêngis Khan, no sentido de que mataria tanta ou mais gente do que o rei mongol. Quem ou o quê, então, poderia ser o Rei do Terror, cujas vítimas igualariam ou ultrapassariam em número as milhões de pessoas mortas por Gêngis Khan? Ele poderia ser um ser vivo, bem literalmente um grande governante que inflige terror àqueles que estão submetidos ao seu poder. Nesse caso, entretanto, é difícil entender como ele poderia vir do céu, a menos que fosse um ser
  64. alienígena, um conquistador que vem do espaço. Há pelo menos um estudioso das Centúrias que está convencido de que esta última é a interpretação correta da Quadra 72 da Centúria X - que em julho ou agosto de 1999 nosso planeta seria invadido por seres do espaço que destruiriam a maior parte da humanidade e escravizariam os remanescentes. Pode ser - mas parece muito mais provável que Nostradamus estivesse empregando a expressão "Rei do Terror" em sentido metafórico, relativo a um objeto inanimado, tal como um redator pode se referir ao produto sobre o qual está escrevendo como "o carro que é o rei da estrada”. Se assim for, o significado da quadra é claro e, considerando os muitos exemplos de profecia confirmada de Nostradamus, é alarmante: em julho ou agosto de 1999, em uma época em que possivelmente haveria guerra em curso, viria da terra uma arma de destruição em massa que seria responsável pela morte de mais pessoas do que o foi Gêngis Khan. Isso imediatamente faz aventar o uso de uma bomba de fusão por uma das potências em guerra; mas mesmo a maior das bombas de hidrogênio de hoje provavelmente não destruiria tantas vidas como o governante mongol destruiu. Talvez Nostradamus estivesse usando a palavra "Rei" para simbolizar uma realidade coletiva, dezenas ou centenas de bombas de fusão - em outras palavras, ele pode ter profetizado o início de uma guerra, em 1999, na qual seriam empregadas armas nucleares em larga escala. Outra possibilidade é que o Rei do Terror não será alguma arma nuclear; que, em vez disso, será uma arma química ou bacteriológica que escapa ao controle e espalha venenos químicos ou esporos de doença por todo um continente ou mesmo por todo o mundo, matando milhões.
  65. Pelas razões que serão explicadas nas páginas 207-9, alguns nostradamianos de hoje acreditam que é provável que o continente da Europa esteja destinado a ser a vítima do assassinato em massa de 1999.
  66. ONDAS ALlENÍGENAS Desde 1947, visões de objetos voadores não-identificados (OVNI’s) parecem ter acontecido em ondas - quase como se estivéssemos sendo "investigados" por alguma civilização alienígena a intervalos regulares. A maior onda dessas visões ocorreu em 1952, quando o consultor de astronomia do projeto de monitoração de OVNI’s do governo americano era o professor Allen Hynek, da Universidade de Ohio. Depois de investigar não menos que 1501 casos, dos quais 303 permaneceram inexplicados, seu ceticismo original foi totalmente abalado. Os casos em que detecções por radar se seguiam a evidências visuais, nas proximidades de Washington, eram especialmente difíceis de ignorar. Avistamentos de OVNI’s reportados por pilotos de avião treinados também eram comuns, e em uma ocasião aviões militares brincaram de pega-pega com diversos OVNI’s, enquanto a coisa toda era observada no radar.
  67. Como foi explicado nas páginas 147-50, as quadras das Centúrias chamadas de "ocultistas" sempre confundiram os comentaristas. Suas tentativas de solucionar o enigma e responder por quê, precisamente, o vidente achou apropriado inserir entre suas profecias algumas estrofes que parecem se relacionar mais com as técnicas de alquimia e mágica do que com o futuro, invariavelmente deram origem mais a debates do que a esclarecimento; elas tenderam a encontrar pouca aceitação ou pouca resposta dos outros, exceto no caso das referências de repúdio à estranhamente expressa Quadra 100 da Centúria VI - à qual, exclusivamente, Nostradamus deu um título: "Legis cantio contra ineptos críticos", ou "A canção da lei contra críticos ineptos". Ainda assim é possível que alguns daqueles que avaaram além da tentativa de entender o significado apenas das quadras puramente proféticas das Centúrias tenham muita informação a dar quanto aos detalhes do que foi vaticinado por Nostradamus em alguns de seus prognósticos precisos mas enfurecedoramente
  68. incompletos - como, por exemplo, a Quadra 72 da Centúria X, na qual ele escreveu sobre o Rei do Terror que viu descendo dos céus em meados de 1999 (ver páginas 202-6). Esses intérpretes tentaram compreender a natureza mais interna dos assuntos que são tratados nas quadras ocultistas - alquimia, magia e os estranhos caminhos de conhecimento interior que alguns chamaram de "cultos da sombra” - e, aplicando-os às Centúrias, dedicaram-se a aprender mais da natureza de aspectos particulares da "história futura”. Esses intérpretes correm o risco de atrair escárnio e também de cometer enganos tolos, mas provavelmente estão seguindo o caminho a que Nostradamus se referiu como o dos "sacerdotes do
  69. rito" (ver quadro na próxima página). Uma dessas experimentadoras, uma pessoa que, em linguajar nostradamiano, poderia ser chamada de "sacerdotisa do rito" - ou seja, uma mulher que possui um detalhado conhecimento teórico e prático tanto do augúrio cerimonial (ver páginas 257-60) como das antigas técnicas de alteração de consciência que supostamente capacitam aqueles que as praticam a obter um vislumbre da conformação do futuro -, forneceu a este escritor o resultado de uma experiência que fora destinada a revivenciar a visão do "Rei do Terror" que Nostradamus registrou na Quadra 72 da Centúria X. As técnicas que foram usadas para levar a cabo esse experimento estão descritas nas páginas 281-4; aqui bastará resumir o conteúdo da visão mediúnica que foi o resultado de seu emprego.
  70. De acordo com essa visão mediúnica experimental, no início de 1999 o governante de um Estado expansionista da Ásia central que foi anteriormente uma república constituinte da União Soviética teria sob seu controle algum tipo de veículo espacial orbital. Nessa época, toda a região que formava a União Soviética estaria dilacerada por uma confusão de guerras estrangeiras e internas, étnicas e religiosas. Como meio de deter inimigos reais e potenciais, esse veículo orbital seria equipado com algum sistema de laar bombas bacteriológicas e químicas. Em conseqüência de algum fato que mais tarde se alegará ter sido um acidente, essas armas terríveis seriam laadas, atingindo a parte sul da Fraa, mas espalhando morte e devastação sobre toda a área terrestre da Europa. Nessa profecia, a Europa teria sido submetida a um ataque assassino de parte de um dos países da ex-União Soviética, e a Terceira Guerra Mundial seria laada em todo o seu horror.
  71. A CANÇÃO DO VIDENTE A Quadra 100 da Centúria VI, única quadra à qual Nostradamus deu um título (ver página 207), tem ainda outra singularidade: ela foi impressa em latim (com exceção de uma palavra), em lugar da costumeira linguagem retorcida que une francês, anagramas e neologismos encontrada nas outras quadras. A estrofe diz: Que os que lêem esta estrofe ponderem seu significado, Que a multidão comum e os incultos a deixem em paz: Todos eles - os astrólogos idiotas e os bárbaros - se afastem, Aquele que faz a outra coisa, seja ele um sacerdote do [ou para o] rito.
  72. Nessa quadra o vidente estava indicando claramente que o conteúdo dessa estrofe não era destinado para o comum dos homens ("os bárbaros"), nem mesmo para "astrólogos idiotas" - simples cartomantes, no sentido de serem diferentes daqueles que hoje poderiam ser chamados "adivinhos iniciados" -, mas para "sacerdotes do rito". Entretanto, o vidente obviamente pretendeu comunicar mais do que isso, e é provável que ele estivesse dizendo uma das duas coisas a seguir, ou as duas: primeiro, que existe, como afirmam alguns estudiosos de seus escritos, uma estrutura escondida nas Centúrias; segundo, que aqueles que fossem "sacerdotes do rito", isto é, os que fossem preparados nas artes proféticas, e não simples cartomantes, deveriam ser capazes não apenas de interpretar as quadras mas de expandir e elucidar seu significado com o uso de augúrio ritual. Em pelo menos doze quadras, Nostradamus fez profecias que podem ser interpretadas como previsões da Terceira Guerra
  73. Mundial. A mais famosa delas, a Quadra 72 da Centúria X, já foi explicada (ver páginas 202-6), mas pode ser interpretada ainda de outra forma, que produz um pouco mais de detalhes. Em lugar de interpretar "Angolmois" como um anagrama imperfeito de mongolois ("mongóis"), pode-se entender que a palavra aponte a cidade francesa de Angoulême. Um líder francês recente que vem de perto dali é François Mitterand, que nasceu em Charente. A quadra, assim, sugere que depois que o "Rei do Terror" vier dos céus, Mitterand será ressuscitado politicamente e trazido temporariamente de volta ao poder para lidar com a situação. "Marte" poderia, então, ou se referir genericamente a uma guerra ou a um líder francês cujo horóscopo seja fortemente marcial (com influência de Marte) e cujo governo seja interrompido pela indicação temporária do presidente Mitterand - ou talvez de algum outro líder francês procedente da mesma região. Na Quadra 16 da Centúria I, Nostradamus utiliza simbolismo astrológico para datar a guerra iminente: Um alfanje ligado a um lago em Sagitário Como seu ascendente mais alto. Praga, fome, morte por mãos militares, O século se aproxima de sua renovação.
  74. O alfanje (12), nesse contexto astrológico, representa o planeta Saturno, enquanto "ligado a um lago" se refere a um signo zodiacal ou planeta de água. Um comentarista traduziu "lago" como “Aquário" e interpretou a passagem como "quando Saturno e Aquário estiverem em conjunção com Sagitário". Entretanto, não é possível que dois signos zodiacais estejam em conjunção; e é mais correto falar de dois planetas em conjunção do que um planeta (Saturno) ligado a um signo (Aquário). Obviamente, o "lago" pode representar a Lua em conjunção com Saturno, em Sagitário. A quarta linha sugere fortemente que os acontecimentos terão lugar no final de um século. A época mais recente em que Saturno esteve em Sagitário foi 1988; até o final do século 20, Saturno, que é um planeta de movimento muito lento, somente passou por Aquário, Peixes, Áries
  75. e Touro. Isso sugere que a chegada dessa praga, penúria e morte está programada para ocorrer bem dentro do século 21. A Quadra 46 da Centúria II nos dá um maior discernimento quanto ao possível advento de uma Terceira Guerra Mundial: Após grande sofrimento para a humanidade, um ainda maior se aproxima Quando o grande ciclo dos séculos for renovado Choverá sangue, leite, fome, guerra e doenças No céu será visto um incêndio, arrastando uma cauda de centelhas. 12. N. da T.: O alfanje, também chamado "gadanha", é semelhante a uma foice de cabo comprido. Mais uma vez se especifica um quadro de tempo "quando o grande ciclo dos séculos for renovado". Diferentemente da Quadra 41 da Centúria II (ver página 165), que fala de uma Grande Estrela fervendo ou queimando, essa quadra especifica "um incêndio, arrastando uma cauda de centelhas", o que parece ser uma referência ainda mais provável a um grande cometa. Como o cometa Halley veio e passou em 1986 com muito pouca visibilidade e perturbação astrológica, o "incêndio" de Nostradamus deve ser um fenômeno meteorológico inesperado, talvez o impacto de um meteoro sobre a Terra. Qualquer que seja o tempo exato, a expressão "quando o grande ciclo dos séculos for renovado" de fato sugere o final do segundo milênio. A guerra trará consigo uma chuva de sangue, leite, fome e doença. A palavra estranha no conjunto é "leite", e talvez a palavra laict do original francês fosse mais bem interpretada como laicité,
  76. significando uma irrupção de secularidade ou sentimento anti- religioso. Nostradamus se refere mais uma vez ao advento do cometa na Quadra 62 da Centúria II: Mabus logo morrerá e então acontecerá Uma terrível destruição de pessoas e animais: Subitamente, aparecerá a vingaa, Uma centena de mãos, sede e fome, quando o cometa passar. A chave para a identificação da época é a identidade de Mabus - talvez alguém que ainda não se tenha tornado proeminente. Em vista, também, da referência a animais morrendo, a causa dessa terrível destruição é provavelmente algum tipo de dispositivo nuclear. Erika Cheetham aventa que "uma centena de mãos" se refere aos muitos campos de refugiados que surgem por todo o mundo quando há guerras ou penúria. A passagem de um cometa poderia, entretanto, ser a visão que Nostradamus teve de um míssil, e não de um cometa natural. Outra quadra especificamente relacionada com o século 20 é a Quadra 63 da Centúria I, na qual, espantosamente, Nostradamus diz claramente que: A pestilência passou, o mundo fica menor, Por longo tempo as terras ficarão pacificamente desabitadas. As pessoas viajarão seguras pelo céu [sobre] terra e mares: E então as guerras começarão de novo.
  77. Um mundo que fica menor é uma expressão contemporânea. Parece até que Nostradamus ouviu um trechinho de uma conversa dos tempos atuais. Ele por certo não teria "visto" o mundo físico encolher. Esse é certamente um aspecto interessante a respeito de como Nostradamus recebia as quadras, quase como se ele tivesse viajado no tempo aleatoriamente (ou pelo menos parece, por sua ordenação das quadras) e assim visse e ouvisse acontecimentos. Algumas de suas visões são de coisas como pilotos de caça (ver página 118), para as quais ele não poderia ter nenhum quadro de referência, então descrevendo-as por meio de objetos de seu tempo, em geral muito habilmente. A última linha sugere que começarão guerras após um período de paz. Essa expressão poderia se referir às guerras mundiais que já ocorreram ou aventar que haverá uma terceira, que irá irromper após um intervalo de cinqüenta anos de relativa paz. A partir do final da Segunda Guerra Mundial, um intervalo de cinqüenta anos nos leva a 1995. Como as duas primeiras guerras mundiais do século 20 começaram nos Bálcãs, naquela área confusa e muito dividida etnicamente que era, até recentemente, chamada de Iugoslávia, é muito tentador apontar os atuais problemas dos Bálcãs como a potencial pedra de ignição para a Terceira Guerra Mundial que Nostradamus prediz.
  78. A Rússia existiu como país por muitos séculos antes da Revolução de 1917, que iria anunciar a formação da União Soviética - que agora, 72 anos mais tarde, quebrou-se de novo em suas partes componentes. A aliaa entre a antiga União Soviética e os EUA no início de 1990 foi vaticinada pela Quadra 21 da Centúria VI, em que esses países são identificados na primeira linha: Quando aqueles do Pólo Norte estiverem unidos, No leste haverá grande medo e apreensão: Um novo homem eleito, apoiado pelo grande homem [...] Pode ser que a segunda linha se refira à reação da China, agora sozinha como único grande país comunista. O "novo homem eleito" é obviamente Boris Yeltsin, que apesar de alguns desacordos foi apoiado pelo "grande homem" que fez surgir tudo isso: Mikhael Gorbachev.
  79. O desmembramento da União Soviética em suas repúblicas constituintes, que já não são governadas por Moscou, deixou um legado de altercações entre os novos países que tentam criar uma Comunidade de Estados Independentes. Nostradamus tem algo a dizer a respeito deles - a Ucrânia e a Bielo- Rússia - na Quadra 95 da Centúria III: Ver-se-á a lei mourisca [modo de vida] falhar, Seguida de outra que é mais atraente: O Boristhenes será o primeiro a dar lugar A outro [modo de vida] mais agradável em conseqüência de presentes e línguas. A "lei mourisca" foi na verdade um trocadilho para aludir aos ensinamentos de Marx e, portanto, o comunismo (ver páginas 125-8), que se viu ter falhado. A referência ao Rio Boristhenes (ou
  80. Dneiper) identifica claramente os dois Estados como sendo a Ucrânia e a Bielo-Rússia (ou Rússia Branca, como era antes chamada), através dos quais ele corre. Fica claro que a súbita onda de fundamentalismo islâmico surgida em algumas das ex-repúblicas soviéticas fracassará nesses dois países. A forma de governo que acabará por assumir o poder nesses países é, segundo a visão de Nostradamus, mais agradável do que o fundamentalismo islâmico ou mesmo do que o comunismo.
  81. Como esses ex-satélites soviéticos são os "primeiros a dar lugar" à propaganda ocidental e talvez a suborno ou à sedução dos bens de consumo (presentes e línguas), ocorre o pensamento de que eles se verão, em algum estágio, em um conflito, presumivelmente com sua vizinha, a Rússia. Há mais minúcias na Quadra 95 da Centúria IV; em que Nostradamus escreve: O governo deixado para dois, eles manterão por muito pouco tempo, Três anos e sete meses passados, entrarão em guerra. As duas vestais se rebelarão contra eles, O vencedor nascido então em solo americano. O "governo deixado para dois" sugere duas potências mundiais, a ex-União Soviética (agora Rússia) e os Estados Unidos. A data desse evento parece ser muito exata - três anos e sete meses após o desmembramento da União Soviética, em algum momento em 1994 ou início de 1995. Nessa época haveria uma guerra, não entre Rússia e América, mas entre a Rússia aliada dos EUA e as duas "vestais" (virginais), significando dois novos países. Eles poderiam muito bem ser as recém-independentes Bielo-Rússia e Ucrânia, que faziam parte da União Soviética. A guerra seria vencida com a ajuda dos EUA, ou por um comandante ou diplomata nascido nos EUA. Apesar dessa ajuda, a aliaa entre as duas potências mundiais não duraria mais do que treze anos, segundo a Quadra 78 da Centúria V:
  82. Os dois não permanecerão aliados muito tempo, Dentro de treze anos, eles cedem ao poder bárbaro. Haverá tal perda de ambos os lados, Que um deles abençoaa Barca e seu líder. A data em que essa aliaa cede a um poder bárbaro seria algum momento do começo do novo milênio, cerca de 2003. A única grande potência não-cristã que poderia se qualificar é a China, que pelo simples tamanho de sua população torna anãs as duas superpotências combinadas. AS PROFECIAS DE RASPUTIN Um dos homens mais influentes na Rússia antes que estourasse a Revolução era o monge Gregory Rasputin, que era intimamente ligado à família real. Antes de sua violenta morte pelas mãos do príncipe Yussupov, ele escreveu uma carta à tsarina na qual fez a profecia de que morreria antes do primeiro dia de 1917, o ano da Revolução Russa. Acrescentou que, se ele fosse morto por um camponês, a Rússia permaneceria como próspera monarquia por centenas de anos, mas, se fosse morto por um aristocrata, o tsar e sua família morreriam dentro de dois anos e nenhum nobre restaria na Rússia após 25 anos. Todas as suas predições se confirmaram, depois que ele foi assassinado por um aristocrata em 29 de dezembro de 1916. A Revolução Russa rebentou no ano seguinte, e um ano mais tarde a segunda predição de Rasputin se cumpriu, com o assassinato da família real.
  83. Uma das estrofes mais inequívocas é a Quadra 17 da Centúria I. Ela declara em um francês bem comum que por quarenta anos Íris não será vista. Íris significa "arco-íris" em grego, e com essa afirmação a quadra parece querer dizer que por quarenta anos não haverá chuva, o que resultará em uma seca mais longa do que as ocorridas na sequíssima parte central da Austrália. A linha seguinte dessa quadra declara que por quarenta anos Íris seja vista todos os dias. Tal afirmação soa como chuva das proporções de dilúvio, seguida de inundações, mas com o Sol se mostrando ao menos tempo suficiente para criar um arco-íris. Para confirmar essa interpretação, a quadra continua: A terra seca se tornará mais ressecada, E haverá grandes inundações, quando ela será vista. Embora a Bíblia registre uma inundação de quarenta dias e quarenta noites, o mundo ainda não viu nem chuva nem seca dessas proporções, portanto a quadra deve ser referir ao futuro. A crescente ocorrência do "efeito estufa" e a alteração que provoca
  84. nos padrões climáticos do globo, incluindo-se o espalhamento de condições desérticas e semi-desérticas em partes da África que antes eram férteis podem ser um início do cumprimento dessa terrível profecia. Se tentarmos olhar além do significado literal bem óbvio da quadra, nossa única pista é Íris, que na mitologia grega era filha de Electra e irmã das Hárpias. Na llíada de Homero, ela é mencionada como mensageira dos deuses (principalmente de Hera e de Zeus, o mais alto deus do Olimpo na Grécia Antiga); portanto, talvez a seca e as enchentes devam ser explicadas como sérios alertas de natureza ecológica enviados pelos deuses. Íris é também esposa de Zéfiro, o mirrante vento oeste que causa a seca; em contraste, ela tem na mão uma jarra de água que simboliza a chuva.
  85. A seca traz a escassez, e na Quadra 42 da Centúria III, Nostradamus fala da fome em Tuscie, ou Toscana, na Itália: A criaa nascerá com dois dentes na garganta, Pedras cairão como chuva na Toscana. Alguns anos mais tarde, não haverá nem trigo nem cevada, Para satisfazer aqueles que enfraquecem de fome. A referência à pessoa nascida com dois dentes na garganta ocorre ainda na Quadra 7 da Centúria lI, também associada à fome: Entre muitas pessoas deportadas para as ilhas Haverá um homem com dois dentes na garganta. Eles morrerão de fome, após descascarem as árvores. "Pessoas deportadas para as ilhas" era um método francês comum de lidar com criminosos, que eram enviados para colônias penais tais como a Ilha do Diabo, na Guiana Francesa. A chave dessas duas quadras é a criaa nascida com dois dentes na garganta. A referência mais clara a uma grande escassez é feita na Quadra 67 da Centúria I, que é reproduzida nas páginas 181-4. A ênfase é colocada sobre penúrias locais tornando-se mundiais, possivelmente em resposta ao efeito estufa e conseqüente alteração
  86. de condições climáticas. As fomes na África são apenas precursoras de uma fome global muito mais generalizada.
  87. A data dessa grande penúria está expressamente indicada na Quadra 67 da Centúria IV: No ano em que Saturno e Marte estiverem igualmente belicosos, O ar fica muito seco [de uma] longa passagem Por causa dos fogos ocultos, um lugar grande queima com o calor Pouca chuva, um vento quente, guerras e reides. Os períodos em que Saturno e Marte ocorrem no mesmo signo belicoso, Áries, aconteceram de 8 de abril a 2 de maio de 1996 e de 5 de março a 13 de abril de 1998. As profecias de Nostradamus quanto à fome generalizada no século 20 poderiam se realizar com mais probabilidade nesses períodos. Os dois planetas estavam também em signos de fogo de 10 de setembro a 30 de outubro de 1996, e novamente de 29 de setembro a 9 de novembro de 1997. Essas datas provavelmente testemunhariam uma dificuldade climática aumentada nos países africanos, pois Nostradamus indica que a seca recrudesceria na época da proximidade desses dois "planetas maléficos", como eram conhecidos antigamente. Por causa do excesso de calor e do ar muito seco, essa poderia ser a pior penúria do século, e a fome seria mais espalhada do que ocorreu na Somália e na Etiópia. Uma referência bem específica que Nostradamus fez na Quadra 90 da Centúria V, quanto à fome na Grécia, confirma que a escassez não ficaria limitada à África.
  88. Nas Cyclades, em Perinthus e Larissa, Em Esparta e todo o Peloponnense: Uma penúria muito grande, praga por meio de poeira falsa. Durará nove meses em toda a península. A "poeira falsa" pode ser um spray usado na agricultura, uma precipitação radioativa ou, possivelmente, algum tipo de arma química que se dirija para o sul a partir da guerra dos Bálcãs. Nostradamus parece ter previsto até mesmo acontecimentos ocorridos no contexto da exploração do espaço, a qual só se tornou um fato na segunda metade do século 20, apesar de ele ter vivido em uma era na qual a idéia de deixar a superfície da Terra como um pássaro estivesse além da imaginação do homem comum, pois até mesmo o vôo básico não passava de uma insinuação de Leonardo
  89. da Vinci (1452-1519). A mais clara referência a vôos está na Quadra 29 da Centúria lI: O homem do Oriente virá de seu assento Passando as montanhas Apeninos a caminho da Fraa: Ele cruzará pelo céu, os mares e a neve, E golpeará todos com seu bastão. A terceira linha indica claramente a visão que Nostradamus teve de uma viagem aérea por sobre mares e os picos nevados dos Apeninos italianos, no caminho do "homem do Oriente" aa Fraa, aventando que sua origem era o Oriente Médio. Pode-se especular se ele "viu" a forma dos aeroplanos que existiriam. Pro- vavelmente viu: a Quadra 64 da Centúria I fala de uma "batalha nos céus" em que os antigos capacetes de vôo lhe foram "visíveis". O mesmo tema é retomado na Quadra 45 da Centúria lI, onde "sangue humano é derramado perto do céu" uma imagem bem direta de guerra humana nos céus. A quadra seguinte descreve um míssil (ou, possivelmente, um cometa): "No céu será visto um incêndio, ar- rastando uma cauda de centelhas". Uma referência menos ambígua é dada pela Quadra 43 da Centúria IV; que afirma claramente que "serão ouvidas armas guerreando nos céus". É pequeno o passo conceitual daí para o vôo espacial controlado. A quadra principal é a Quadra 65 da Centúria IX, que diz: Ele será levado à esquina da Luna, Onde será colocado sobre terra estrangeira.
  90. Se entendemos Luna como a Lua, fisicamente, e não como alguma alusão simbólica, isso descreve a descida do astronauta Neil Armstrong ao solo lunar em uma nave colocada sobre a superfície da "Luna” pelos controladores da central da Nasa. Aí ele reclamou a "terra estrangeira” para os EUA e deu seu passo gigante para a humanidade em 1969, mais de quatrocentos anos depois que um astrólogo em uma cidadezinha da Provença contemplou a Lua e predisse esse evento extraordinário.
  91. O DESASTRE DO CHALLENGER As linhas três e quatro da Quadra 65 da Centúria IX abordam o acontecimento de 28 de janeiro de 1986, em que, 71 segundos após a decolagem, o ônibus espacial Challenger explodiu, matando sua tripulação de sete pessoas: A fruta não-madura será assunto de grande escândalo. Grande crítica, para os outros grande louvor. A "fruta não-madura” é o ônibus espacial defeituoso, cuja explosão brecou todo o programa espacial americano por talvez uma década. Grande crítica de fato, e é impensável que uma operação tão cara e complexa pudesse ter dado tão errado antes mesmo de sair da atmosfera terrestre. O grande louvor de Nostradamus vai para a equipe de Neil Armstrong. Na mesma época, o programa espacial da URSS tinha tido bastante sucesso no estabelecimento da estação espacial orbital MIR. Nostradamus mais uma vez se refere ao desastre do Challenger na Quadra 81 da Centúria I, em que ele dá algumas pistas intrigantes: Nove serão separados da raça humana, Separados de julgamento e conselho: Sua sorte deverá ser dividida ao partirem, Kappa, Theta, Lambda, banidos e espalhados. "Sua sorte deverá ser dividida ao partirem" é uma imagem da tripulação sendo despedaçada na explosão enquanto o Challenger partia - fora de qualquer socorro, sem nem mesmo tempo para
  92. tomar uma decisão ("separados de julgamento"). Entretanto, Nostradamus entendeu errado o número de astronautas, pois ele diz nove, e não sete. As letras gregas, banidas e espalhadas, soam como letras das fraternidades universitárias americanas e podem ter correspondido às aliaas fraternais entre membros da tripulação ou, em outra opção, a suas iniciais, ou mesmo ao nome-código desse laamento em especial. Esses são detalhes que provavelmente só a Nasa poderá confirmar ou negar.
  93. Muitas dentre as profecias de Nostradamus tratam de acontecimentos desagradáveis, e não de eventos felizes. Os cínicos salientaram que é sempre de bom alvitre, para os que querem ganhar reputação de que têm capacidade de ver o futuro, previsões de muitos desastres, ruína e tristeza, pois a catástrofe, como a morte e os impostos, estão sempre conosco. Comenta-se que o clarividente que nos diz para esperar calamidades será inevitavelmente admirado porque com certeza haverá calamidades. Tantas das profecias de Nostradamus eram negativas, que em 1562 nada menos que vinte impressoras inglesas pagaram direitos para vender os Prognósticos de Nostradamus. Esses pagamentos estão laados no Registro do Papeleiro desse ano, juntamente com os títulos e nomes de autores de alguns almanaques da época. As profecias políticas eram levadas muito a sério pelo governo inglês de então, e tiveram tal impacto sobre os cidadãos que, segundo um panfleto datado de 1561, "o reino todo estava tão atormentado e tão emocionado com as profecias cegamente enigmáticas e diabólicas daquele contemplador do céu, Nostradamus, [...] que mesmo aqueles que podiam ter desejado em seu coração que fosse
  94. estabelecida em prosperidade a glória de Deus e de sua Palavra foram levados a uma tal frieza de fé, que duvidaram de Deus". Publicações assim eram um bom negócio, e talvez os poderes constituídos não estivessem inclinado a ver distribuídos na Inglaterra prognósticos que tenham sido considerados pró-Fraa. Isso nos dá uma idéia de como as publicações de Nostradamus eram, além de terem suscitado desaprovação oficial, populares até na Inglaterra.
  95. Sempre houve um relacionamento ambíguo entre profetas e seus governantes. Nenhum governante gosta de sentir que suas decisões serão anuladas por uma profecia de fracasso; além disso, é ruim para o moral. Talvez o profeta mais universalmente detestado e perseguido tenha sido o hebreu Jeremias: seu primeiro livro de profecias foi primeiro cortado em pedaços, depois queimado. Ele foi muitas vezes aprisionado em condições bem desagradáveis, por suas profecias aparentemente não-patrióticas, e teve de se aliar ao
  96. governador da Babilônia para obter proteção, antes de fugir para o Egito, onde acabou sendo morto por apedrejamento devido a suas previsões lúgubres. Entre os mais antigos profetas da Grécia estavam as Sibilas. Tal como as sacerdotisas de Baco, cujas técnicas de profecia Nostradamus copiou, elas também eram sacerdotisas de ApoIo. A mais famosa delas foi a Sibila Cumeana, que teve a fama de guiar Eneas para o submundo, como relatado na Eneida, de Virgílio, no "Livro VI". Essa Sibila, cujos talentos obviamente não eram apreciados, ofereceu nove livros de suas profecias ao Rei Tarquínio. Quando ele se recusou a pagar o preço aparentemente exorbitante por elas, ela atirou três dos livros nas chamas de um braseiro e exigiu o mesmo preço pelos seis livros restantes. Ele recusou, e ela repetiu a mesma ação, queimando mais três livros. Ele finalmente se rendeu e pagou o preço pedido pelos nove livros para ter apenas os últimos três. Esses livros ficaram guardados no Capitólio de Roma, no templo de Júpiter, até esse Capitólio ser incendiado no ano 83.
  97. Além dos livros que contêm dizeres oraculares verdadeiros, muitos livros literários ou religiosos originalmente não produzidos para uso oracular vieram a receber tal veneração que se considerou que tais obras fossem dotadas de uma virtude sobrenatural. Por exemplo, tanto a Odisséia de Homero como a Eneida de Virgílio foram vistas como obras de respeito, na antiga Roma e na Europa renascentista, a ponto de terem sido usadas como oráculos. O uso de um livro como oráculo era chamado de "laar a sorte". Alguém formulava cuidadosamente a pergunta e, então, ao acaso, abria o livro três vezes, a cada vez deixando cair um dedo sobre uma página. O consulente anotava as três linhas sobre as quais seu
  98. dedo havia pousado e em seguida tentava aplicar essas linhas à situação sobre a qual fora feita a pergunta. Desde as últimas décadas do Império Romano, tanto o Velho como o Novo Testamento da Bíblia foram muito freqüentemente empregados da mesma maneira, e o processo era chamado de sortes Sanctorum, "as sortes dos Santos" . Embora esse modo de usar a Bíblia fosse especificamente proibido por muitos conselhos eclesiásticos locais, o laamento das sortes Sanctorum era muito disseminado. Na História dos Francos, São Gregório de Tours (538-594) registrou que o príncipe frâncico Merovechus, ao ver-se sob o terror da ira da belicosa rainha Fredegond, lançou as sortes Sanctorum na Basílica de São Martim de Tours. Os oráculos que depreendeu desses livros se revelaram de natureza sombria, especialmente um deles: "O Senhor nosso Deus te traiu nas mãos de teus inimigos". O oráculo se mostrou bastante correto, pois Merovechus acabou sendo morto por oficiais da Justiça da rainha Fredegond. Uma predição assim correta não parece de forma alguma ter sido a única. Não surpreende, assim, que os profetas fossem muitas vezes vistos como condenadores e, conseqüentemente, fossem perseguidos.
  99. ORÁCULOS SIBILINOS Os antigos oráculos sibilinos cristãos proclamaram o imperador Constantino como rei messiânico. Para eles, evidentemente, era um verdadeiro dom do céu um imperador romano ser cristão. Uma das sacerdotisas (Tiburtina) falou do Imperador dos Últimos Dias que lutava contra o Anticristo, pois naquela época os primeiros cristãos convertidos acreditavam totalmente que o fim do mundo estava bem próximo da crucificação de Cristo. Esse Imperador dos Últimos Dias era uma figura que preenchia todos os desejos dos cristãos pri-
  100. mitivos, pois dizia-se que ele converteria os pagãos, destruiria os templos dos falsos deuses e batizaria os convertidos, especialmente os judeus. A profecia concluía dizendo que, quando seu trabalho estivesse finalmente terminado, ele pousaria sua espada e se retiraria para a Gólgota, colina sobre a qual Cristo foi crucificado. O Incêndio de Londres, bem como o excepcional acerto de Nostradamus ao apontar o ano 1666 ao indicar "três vezes vinte e seis", na Quadra 51 da Centúria II, foi discutido nas páginas 59-62. O famoso memorialista Samuel Pepys conhecia essa profecia de Nostradamus, que fora reimpressa no Booker's Almanack antes do incêndio. Alguns outros profetas parecem ter chegado às mesmas conclusões sobre esse acontecimento tão importante. O astrólogo William Lilly (1602-1681), que nasceu pouco mais de um século depois de Nostradamus, publicou um panfleto chamado Monarquia ou não- monarquia catorze anos antes do Grande Incêndio de Londres. Nele havia dezenove hieróglifos ou figuras enigmáticas destinadas a retratar o futuro da "Nação e comunidade inglesa por muitas
  101. centenas de anos que virão". Além de algumas estampas que mostram cenas que podem ainda pertencer ao futuro - por exemplo, um estranho animal semelhante a uma fuinha atacando uma coroa e o Parlamento descansando calmamente enquanto acontece uma in- vasão da Inglaterra -, há duas imagens especialmente surpreendentes impressas na mesma página. A primeira mostra pilhas de cadáveres sobre o chão nu e dois homens diligentemente cavando túmulos para dois caixões, enquanto sobre uma igreja ao fundo voam quatro pássaros de mau agouro. Essa perturbadora visão da praga que precedeu o Incêndio é ligada, por proximidade, à imagem de uma cidade em chamas junto de um grande rio - uma cidade que quase certamente é Londres. Perto, alguns homens estão despejando água em uma fogueira ardente na qual cai um par de gêmeos. Os gêmeos simbolizam o signo zodiacal de Gêmeos, que é o mais comumente associado a Londres.
  102. Embora a praga e o fogo fossem riscos comuns da época, a espantosa adequação dessas imagens foi reforçada por um panfleto que Lilly escreveu em 1648, no qual apontou mais uma indicação astrológica do que estava por vir: "No ano de 1665, quando a abscissa [...] de Marte aparecer em Virgem, quem poderá esperar menos do que uma estranha catástrofe dos assuntos humanos no [...] reino da Inglaterra [...] será sinistro para Londres, para seus mercadores no mar, seu comércio na terra, seus pobres, para todos os tipos de pesso [...] por motivo de vários incêndios de uma praga devoradora”. Tal descrição dessa dupla tragédia dificilmente poderia ter sido expressa mais claramente, sete anos antes de ocorrer. Lilly estava espantosamente correto, pois na esteira do Incêndio de Londres não faltavam teorias quanto à causa do incêndio, e os cidadãos ficaram dispostos a jogar a culpa sobre qualquer pessoa ou conspiração. Lilly aponta em seu diário que diversas pessoas, inclusive o coronel John Rathbone, "foram julgadas com risco de morte" por terem planejado queimar a cidade com o objetivo de matar o rei e depor o governo da época. Os supostos conspiradores teriam utilizado até o almanaque de Lilly para calcular um dia de sorte (3 de setembro) para seu ato malvado, no que o destino se teria antecipado a eles, e o incêndio irrompeu um dia antes de seu plano. Lilly foi devidamente convocado à Câmara Legislativa para ser inquirido a respeito de sua predição. Com alguma apreensão, ele pediu a seu amigo, o conhecido antiquário Elias Ashmole, para acompanhá-lo. Ashmole fora feito arauto pelo rei em Windsor, e sua presença ajudou a proteger o profeta de vitimização indevida. Podem até ter suspeitado de que Lilly ateara fogo à cidade para confirmar sua profecia, mas a presença de Ashmole ajudou que a
  103. discussão ficasse longe das conjecturas e firmemente dentro do que podia ser provado. Assim, Lilly saiu do interrogatório livre. Ele deu a Ashmole um lote de livros raros em agradecimento por sua ajuda. Eis o perigo contido em fazer profecias que se mostram verdadeiras durante a vida de um profeta! Nostradamus também deve ter ficado preocupado quando foi chamado a Paris em 1556 pela rainha Catarina de Médici. Em conseqüência desse encontro, a rainha implicitamente acreditou nas predições de Nostradamus pelo resto da vida, mas esse encontro poderia com a mesma facilidade ter tido outro resultado - especialmente porque Nostradamus foi encarregado da difícil e delicada tarefa de desenhar os mapas natais dos sete filhos dos Valois, cujo destino trágico ele já havia revelado nas Centúrias. Não espanta que, para sua própria seguraa, Nostradamus tenha deliberadamente obscurecido datas e nomes em suas quadras. O FOGO VATICINADO Francis Bernard, médico e astrólogo, tentou estabelecer uma teoria astrológica geral que lhe permitiria mapear o curso de todos os incêndios de que uma cidade poderia ser vítima no futuro, pelo processo astrológico da "retificação" - uma prática pela qual o horóscopo de uma cidade (ou, mais comumente, de uma pessoa) é ajustado em relação a acontecimentos conhecidos da vida da cidade (ou da pessoa). Outros pensaram reconhecer no Incêndio de Londres uma das muitas profecias de Mãe Shipton, vidente nascida em 1488 em Knaresborough, Yorkshire, que tinha a fama de ter vivido em uma caverna. Isso veio pela primeira vez à tona em 1641, 25 anos antes do incêndio, mas, como cada edição sucessiva de suas profecias
  104. parecia conter novas predições que se ajustavam à ocasião, não se pode dar muito crédito a ela. É como se a gravidade do Incêndio de Londres tenha sido suficiente para agitar alguns profetas, que fizeram a mesma predição. Ou será que o incêndio se tornou inevitável depois que tantos videntes o viram?
  105. Em 1985, o dr. Ravi Batra publicou um livro chamado A Grande Depressão de 1990, no qual previa acuradamente o evento de uma terrível recessão ou depressão - com grande aumento de desemprego, queda da inflação, rápido decréscimo dos preços de imóveis, grande aumento de fracassos empresariais e alguns outros eventos econômicos -, previsão que acabou realmente confirmando- se no mundo ocidental. Uma cronologia perfeita, como se viu, pois ele aaventou que os compromissos das empresas deveriam ser reduzidos e que os imóveis deveriam ser vendidos no final de 1989. No entanto ele nunca alegou ser um profeta, mas, sim, um mero observador interessado dos ciclos econômicos. Ao assumir que os acontecimentos de 1990 fariam um paralelo com os de 1930, e pela extrapolação de que 1996 anunciaria o verda- deiro fim da recessão, ele nos deu uma predição e incons- cientemente sublinhou duas interessantes idéias-chaves. O período entre os acontecimentos dos anos 1930 e os dos anos 1990, escolhidos pelo dr. Barra, é de sessenta anos - exatamente o tempo especificado pelos chineses antigos para se completar o Grande Ano, durante o qual se supõe ocorram todas as
  106. combinações possíveis de acontecimentos descritos pela interação entre os dez Caules Celestes e os doze Ramos Terrestres da metafísica chinesa. Depois de sessenta anos, cada pessoa volta exatamente à mesma combinação de Ramos e Caules observada no ano de seu nascimento. Talvez o Grande Ano Chinês tenha outras implicações relevantes para a profecia que não são assim tão óbvias para o mundo em geral. Talvez a própria escolha das palavras "ramo" e "caule", que ecoam a estrutura da "árvore do tempo" discutida nas páginas 277-80, não seja uma coincidência. O uso de datações astrológicas feito por Nostradamus nas quadras sugere que uma determinada profecia possa se "atualizar" em qualquer uma das épocas em que ocorra uma certa conjunção
  107. astrológica. Isso significa que, como cada planeta orbita com uma velocidade diferente da do outro em torno do Sol, certas configurações ocorrem com maior freqüência, ao passo que outras se dão a longos intervalos. As que ocorrem a intervalos bem longos - digamos, a cada dois séculos - podem ser vistas como eventos cujas datas são praticamente únicas, ou seja, destinados a ocorrer uma vez. As de maior freqüência são as que ocorrem várias vezes dentro de um mesmo século, podem acontecer em uma ou em outra dessas conjunções ou mesmo sob modos diferentes em várias dessas conjunções. Da mesma forma, a translação da Terra em torno do Sol possibilita que os fabricantes de calendário "profetizem" as estações. Talvez essas configurações astrológicas marquem pontos onde os raminhos da "árvore da vida” roçam uns nos outros sob algum vento cósmico. Talvez sejam pontos onde os acontecimentos "cresçam juntos" de novo e em que um galhinho divergente se reúna ao ramo principal. Um exame dos aspectos cíclicos provocados pela revolução dos planetas em torno do Sol em períodos de tempo diferentes pode revelar alguns dos padrões do futuro, pois afinal é pela revolução de apenas um desses planetas em torno do Sol - a Terra - que todo o tempo humano é medido. Uma compreensão do funcionamento de todo o relógio cósmico pode revelar a estrutura que há por trás da seqüência de eventos que chamamos de "história”, seja ela nacional ou pessoal. De fato, são exatamente esses aspectos do mapa de nascimento de um indivíduo que podem predizer alguns dos acontecimentos de sua vida. Talvez Nostradamus fosse, na verdade, um astrólogo muito maior do que jamais se considerou, mas de uma maneira diferente
  108. daquela que normalmente se entende pelo termo "astrólogo". Pode ser que ele compreendesse algumas partes do funcionamento do relógio cósmico que lhe possibilitavam adquirir uma visão de outros tempos, e não somente aquelas partes que são determinadas pela revolução de um único planeta - a Terra - em torno do Sol. Para obter maiores detalhes e alguns exemplos das quadras astrológicas de Nostradamus datadas com maior precisão, leia as páginas 238-41.
  109. PREDIÇÕES CÍCLICAS DE SESSENTA ANOS Ravi Batra traçou alguns paralelos de sessenta anos: . 1920 & 1980 - Anos de desemprego alto, inflação alta e taxas de juros altas, o que constitui uma combinação muito rara. . 1921 & 1981 - Um grande corte de impostos favorecendo a faixa superior da escala de salários, com o desemprego subindo nitidamente . 1922 & 1982 - Anos de nítida queda da inflação e das taxas de juro, com forte alta na bolsa de ações do Reino Unido da Grã- Bretanha. . 1923 & 1983 - Um paralelo estranho: bancos oferecendo juros sobre contas correntes pela primeira vez na história em 1923, e os reintroduzindo em 1983, após uma longa interrupção. Em ambos os anos, uma queda muito acentuada do desemprego (a maior em três décadas, em 1983). . 1924 & 1984 - Inflação menor e o mercado de ações do Reino Unido continuando a subir. . 1925 & 1985 - Aumento abruptonos fracassos bancários (só em 1985 faliram 120 bancos em todo o mundo). . 1926 & 1986 - No Reino Unido, o mercado de ações atinge recorde de altas e o nível de desemprego cai fortemente. Queda acentuada nos preços de energia.
  110. Em todas as formas de profecia, a parte mais traiçoeira para o vidente é conseguir uma data exata, um ponto fixo preciso na rede interconectada dos vários futuros possíveis. O vidente pode "ver" um evento com todo tipo de detalhe, mas ter problemas para identiftcar a data exata do evento ao qual ele chega quase por acidente. Formas de divinação como I Ching, geomancia e tarô praticamente não possibilitam obter uma determinação precisa de data. Conseqüentemente, é extraordinário que Nostradamus tenha sido capaz de determinar com precisão o ano, e algumas vezes até o mês, de eventos referidos em algumas de suas profecias. Não obstante o fato de ter alegado que sabia as datas de todas as suas profecias, em uma carta a César, seu filho, Nostradamus especificou datas precisas somente para algumas poucas de suas quadras: . A Quadra 51 da Centúria II revela o ano do Incêndio de Londres em "três vezes vinte e seis", ou 1666.
  111. . A Quadra 77 da Centúria III corretamente prevê a paz entre turcos e persas em 1727. . A Quadra 72 da Centúria X prevê a sombria vinda do Rei do Terror em julho de 1999. Além de datas explícitas, Nostradamus dá algumas indicações astrológicas, das quais se pode tirar uma gama de datas possíveis. A Quadra 52 da Centúria I, por exemplo, descreve a data de seu cumprimento como uma conjunção de Júpiter e Saturno no signo zodiacal de Áries (a "cabeça” do zodíaco): A cabeça de Áries, Júpiter e Saturno, O Deus Eterno o que muda? Então após um longo século os tempos ruins voltarão, Grandes revoltas na Fraa e na Itália. Essa conjunção ocorreu em dezembro de 1702 durante a Guerra da Sucessão Espanhola. Os acontecimentos "após um longo século" foram a campanha francesa na Itália em 1803 e a declaração de Napoleão como presidente da República na Itália.
  112. Outra data indicada astrologicamente ocorre na Quadra 16 da Centúria I. A interpretação das referências astrológicas dessa quadra confundiu diversos comentaristas, um dos quais chegou a dizer que "essa descrição é tão genérica que pode aplicar-se ao século 20 assim como a qualquer outro". Não é verdade - a linha principal é "Um alfanje ligado a um lago em Sagitário". O alfanje é um símbolo do planeta Saturno conjugado com apenas um planeta possível, a Lua, ambos no signo de Sagitário. Essa conjunção acontece por um período de dois anos e meio a cada 29 anos e meio, porque Saturno é um planeta muito lento. Uma previsão como essa seria provavelmente para 1999 - um ano nostradamiano muito significativo. Nostradamus não podia datar os eventos somente com o uso dos planetas de movimento rápido, como Mercúrio, porque isso teria provido uma série de datas muito numerosa e confusa. Outra data astrológica aparece na Quadra 48 da Centúria lI, que declara: O grande exército passará sobre as montanhas Quando Saturno estiver em Sagitário e Marte estiver entrando em Peixes. Essa conjunção ocorreu três vezes no século 20, a última delas no final de novembro de 1986. Entretanto, um acontecimento apropriado que lhe correspondesse ainda não transpirou, portanto parece que se trata de uma predição fututa, para o século 21. A Quadra 24 da Centúria VI é outra clara data astrológica:
  113. Marte e o Cetro estarão em conjunção, Uma guerra calamitosa sob Câncer: Pouco tempo depois, um novo rei será ungido, E ele trará paz à terra por longo tempo. Essa quadra prevê como certa a nomeação de governante após um guerra que se dê entre 22 de junho e 23 de julho (sob o signo de Câncer), em um ano determinado por uma conjunção entre Marte e Júpiter (o cetro) em Câncer. Tal conjunção ocorreu seis vezes desde 1812 e ocorreria novamente em 21 de junho de 2002, uma data possível para essa guerra, mas não é uma certeza.
  114. Na Quadra 91 da Centúria V, a Grécia é ameaçada por um ataque da Albânia:
  115. No grande mercado chamado o dos mentirosos Todos de Torrento e do campo de Atenas: Eles serão surpreendidos pelos ligeiros cavalos armados Pelos albaneses, [quando] Marte [estiver em] Leão e Saturno [estiver] em Aquário. A última ocorrência dessa conjunção deu-se entre 28 de abril e 3 de junho de 1993. Conseqüentemente, essa é uma profecia para o terceiro milênio. Afora essas quadras, a maior parte das datas só é reconhecível em retrospecto. É uma pena que Nostradamus, sabendo, como disse a seu filho, as datas exatas, tenha escolhido ofuscá-Ias na maior parte das quadras. No entanto, é mais provável que ele não tenha sido capaz de colocar datas precisas em muitas de suas predições.
  116. NOSTRADAMUS E O RIO DO TEMPO É ESPANTOSA A PRECISÃO DE NOSTRADAMUS NAS MUITAS PROFECIAS SUAS QUE SE CUMPRIRAM, TAIS COMO AQUELAS EM QUE ELE INFORMOU AS DATAS EM QUE EVENTOS IAM ACONTECER. ISSO TORNA SEUS ERROS AINDA: MAIS DESCONCERTANTES. SERIA POSSÍVEL RECONCILIÁ-LOS? A espantosa precisão de muitas das predições de Nostradamus levanta diversas questões importantes. Em primeiro lugar, será que ele foi um clarividente natural, isto é, uma pessoa nascida já com a capacidade inata de ver acontecimentos que se dêem muito longe no tempo e no espaço? Empregava algum método além da astrologia para ajudá-Io a profetizar? Se empregava, então qual era a natureza desses métodos? Algum desses métodos tinha conexão com mágica ritual ou outras técnicas vistas por alguns como "conhecimento proibido"? Se Nostradamus realmente tinha visões de acontecimentos que só se deram muito tempo depois de sua morte, isso significa que a idéia de livre arbítrio é ilusória? Todos nós somos, em certo sentido, robôs, máquinas biológicas destinadas a viver para um fim predeterminado? Nas páginas seguintes, há uma tentativa de fornecer respostas provisórias para todas essas questões relacionadas com as profecias de Nostradamus. Trataremos tanto das profecias acerca do passado como das concernentes ao futuro, não deixando de lado aquelas poucas que se revelaram inquestionavelmente errôneas ou que, muito estranhamente, parecem ter sido cumpridas antes de terem sido feitas (ver página 156).
  117. A esse respeito, os leitores terão que levar em conta uma idéia particular, diferente, da palavra "tempo", pois algumas teorias a respeito de profecias em geral e das de Nostradamus em particular envolvem olhar o tempo de modo bem diferente daquele com que todos estamos acostumados. Pensamos nele como se fosse um grande rio, correndo da nascente até o fim - a Grande Explosão (Big Bang), ou o ato divino da criação, vista como a fonte do rio do tempo, e a extinção do universo, ou o Juízo Final, como o fim dele. Nossa própria vida é, metaforicamente falando, uma pequena viagem ao longo desse rio, sempre descendo pela correnteza.
  118. Existem, entretanto, muitas outras hipóteses relativas à natureza do tempo. Uma delas, encarada com simpatia por alguns físicos renomados, vê a estrutura do tempo como algo que lembra não um rio, mas a forma de uma enorme árvore de floresta, sendo que o "nosso tempo", que contém o universo inteiro de matéria e energia que conhecemos, não passa de um galhinho sobre um dos ramos da árvore. Neste capítulo, essa e outras idéias serão consideradas em relação às Centúrias.
  119. Uma aceitação do que parece ser a prova esmagadora de que Nostradamus conhecia a natureza dos acontecimentos que viriam centenas de anos após sua morre em 1566 tem algumas implicações muito desagradáveis para todos nós, pois aventa a idéia de que o futuro está fixado por forças totalmente fora de nosso controle, que quando acreditamos que estamos fazendo uma escolha, ainda que trivial, não estamos na verdade fazendo escolha nenhuma. Ao contrário, estamos simplesmente seguindo o que foi ditado pelas Parcas (deusas do destino), das quais somos brinquedos. Outro modo de ver nosso futuro é postular uma hipótese de "realidades alternativas" - a teoria que, metaforicamente falando, considera o tempo como uma árvore, e não como um rio (ver páginas 277-80). Da base dessa "árvore do tempo" cresce um tronco do qual brotam inúmeros galhos, cada um deles re-
  120. presentando uma realidade alternativa, um "universo paralelo", entre os quais apenas um é o nosso. O início dos tempos é a base do tronco dessa árvore metafórica, ao passo que as primeiras realidades alternativas (formadas depois que começou o tempo) são os enormes galhos que se estendem do tronco. Realidades alternativas posteriores são os ramos menores que brotam dos grandes galhos principais da árvore do tempo - e desses se estendem inumeráveis raminhos. A nossa realidade - que praticamente todos nós assumimos que seja a única realidade que existe - é vista como apenas um dos raminhos que brotam de um pequeno galho da árvore da vida. Nossa história só é única a partir do ponto em que o raminho - o mundo alternativo em que vivemos - brotou de seu ramo. Antes disso, compartilhamos nossa história com os outros galhinhos que brotaram ao mesmo tempo que o nosso galhinho.
  121. O que fez com que o nosso galhinho, em particular, e os outros galhinhos - cada um sendo uma realidade em si mesmo e com todos os seus habitantes inteligentes convencidos de que vivem na única realidade - brotassem do pequeno galho do qual crescem? E o que fez com que todos os galhos pequenos brotassem dos galhos maiores que cresceram do tronco principal milhões ou centenas de milhões de anos atrás? Segundo alguns teóricos - que incluem não apenas escritores de ficção científica altamente imaginativa mas também físicos- matemáticos -, a árvore do tempo projeta um novo galhinho a cada vez que um ser consciente faz uma escolha entre dois ou diversos cursos de ação possíveis. Nas palavras do renomado escritor de ficção científica Harry Harrison, isso significa que "deve haver um número infinito de futuros [...] Se, a caminho do trabalho, de manhã, decidimos tomar o ônibus e somos mortos [...] se o tempo se ramifica eternamente, então há dois futuros - um no qual morremos [...] e outro no qual vivemos, por termos tomado o metrô". Alguns físicos-matemáticos - cujo trabalho trata de uma área em que a física, a filosofia e os conceitos místicos parecem se misturar em uma coisa só - levam realmente muito a sério a possibilidade da existência de realidades alternativas. Tomemos, por exemplo, a seguinte passagem de um trabalho que foi publicado pelo físico matemático dr. Martin Clutton-Brock no volume 47 da revista Astrophysics and Space Science ["Astrofísica e ciência espacial"] em 1977: "Imagine o universo se ramificando em muitos mundos, um dos quais apenas nós experimentamos. Existem mundos fechados e mundos abertos; mundos inicialmente uniformes e mundos inicialmente caóticos; mundos de alta entropia e mundos de
  122. baixa entropia. Na maioria dos mundos, a vida nunca evolui; em alguns mundos, a vida evolui, mas é escassa; e em relativamente poucos mundos, a vida é abundante." Em uma comparação entre essas duas cirações, fica evidente que existe uma semelhaa entre as fantasias dos escritores de ficção científica que se ocupam de realidades alternativas e as hipóteses de alguns astrofísicos e matemáticos. Aceitando-se alguma variante da hipótese sobre realidades alternativas tal como delineadas por Harry Harrison e pelo dr. Martin Clutton- Brock, não há grande dificuldade para reconciliar as profecias de Nostradamus cumpridas com uma crença no livre arbítrio - nem para explicar uma série de profecias feitas pela mesma e única pessoa e que mostrem ser uma curiosa mistura do totalmente correto, do quase totalmente correto e do inteiramente errado. Porque, se Nostradamus e outros profetas não estavam, de fato, genuinamente visualizando o futuro de nosso mundo em sua própria e particular realidade, mas, sim, o futuro de universos paralelos nos quais a linha do tempo difere da nossa, não existe razão para que a nossa realidade alternativa não esteja uma década, um século ou um milênio à frente ou atrás de algum outro universo paralelo. Em outras palavras, é possível que algumas vezes o "futuro" que Nostradamus previu tenha sido, de fato, o presente de outra realidade na qual o curso da história seguiu um caminho diferente do seguido pelo nosso mundo. FANTASIA E REALIDADE Sir Fred Hoyle, que ocupou a cadeira Plumian de Astronomia e Filosofia Experimental na Universidade de Cambridge, é ao mesmo tempo um astrofísico e um escritor de ficção científica imaginativa.
  123. Ele tratou da teoria do tempo em seu livro October the First Is too Late ["Dia primeiro de outubro é tarde demais"]. No prefácio, sir Fred deixa bem claro que, embora tenha escrito um livro de ficção imaginativa, as discussões sobre a importância do tempo e o significado da consciência tiveram a intenção de ser bem sérias. Neste livro, há uma variante da hipótese de realidades alternativas na qual toda a história do nosso planeta, a passada e a futura, consiste em uma espiral quadridimensional que se move em torno do Sol. Tudo que aconteceu no passado e tudo que vai acontecer no futuro estaria, na realidade, acontecendo no presente - em outras palavras, passado, presente e futuro seriam uma coisa só. Seriam apenas as limitações da consciência humana que nos levam a separar o passado do futuro.
  124. Existe uma explicação para o fato de que muitos profetas naturais como Nostradamus possam estar tão certos em algumas de suas predições e tão errados em outras? Um cético diria que esses supostos profetas nunca passaram, de fato, de palpiteiros com sorte. Entretanto, pessoas convencidas da existência de "talentos brutos" para a mediunidade - que são capacidades humanas naturais, embora exercitadas por poucos - defenderiam que as capacidades proféticas de um vidente e seu poder de decodificar corretamente as mensagens do futuro oscilam como a transmissão de um rádio mal sintonizado. A crença de que existem autênticos profetas entre nós no dia de hoje encontra apoio em grande quantidade de provas de que existiram homens e mulheres assim no passado recente. Perto do fim de 1891, um quiromante e clarividente de 25 anos, um homem que se autodenominava "Cheiro" e "conde Louis Hamon", fez uma predição extremamente inverossímil sobre o futuro do segundo filho do rei Edward VII, então Príncipe de Gales. Com o correr do tempo, disse ele, o segundo filho, príncipe George, herdaria o trono do
  125. Reino Unido. Na época, a maior parte das pessoas teria considerado tal eventualidade nem um pouco provável, pois, embora o príncipe George fosse o segundo na linha do trono, seu irmão mais velho "Eddie", o Duque de Clarence, era considerado por todos um rapaz de saúde excelente, que tinha acabado de assumir o compromisso de futuro casamento com a princesa Mary of Teck, e era praticamente certo que teria seus próprios filhos e filhas em poucos anos. Na realidade, porém, a saúde do Duque de Clarence não era tão boa como se supunha - há algumas evidências que sugerem que à época de seu noivado o duque já vinha sofrendo, desde muito tempo, de uma sífilis incurável. Em janeiro de 1892 ele morreu de pneumonia - ou, pelo menos, isso é o que foi dito em um anúncio oficial do Palácio de Buckingham. Após um intervalo apropriado, o Príncipe George ofereceu noivado, depois casamento à princesa Mary of Teck e acabou sucedendo ao irmão no trono como rei George V. Uma predição muito específica de um acontecimento improvável - a morte precoce do Duque de Clarence e a ascensão ao trono de seu irmão mais novo - se havia revelado correta na história.
  126. Cheiro parecia ter firmado triunfalmente sua posse de um "talento bruto", que lhe possibilitava discernir a forma das coisas que estavam por vir. Mas eis que não existe documentação que compro- ve essa predição; portanto, os céticos podem desprezá-Ia totalmente. Entretanto há prova de que, perto do fim da vida, Cheiro fez uma predição ainda mais surpreendente e absolutamente precisa sobre o filho mais velho do rei George V e de seu irmão, o então Duque de York.
  127. Em uma previsão do futuro que se encontrava impressa antes de 1930, Cheiro escreveu: "Os portentos não são favoráveis para a prosperidade da Inglaterra nem para a família real, com exceção do Duque de York. Em seu caso, é notável que o signo régio de Júpiter cresce em poder à medida que os anos avaam, o que [...] também foi o caso de seu pai, o rei, antes que houvesse qualquer probabilidade de sua ascensão ao trono". Cheiro fez ainda uma declaração adicional com respeito à família real. Escrevendo sobre o irmão mais velho do duque, que era então o Príncipe de Gales, ele, antes de mais nada, mencionou "mudaas que têm a probabilidade de ocorrer e afetar grandemente o trono da Inglaterra”, predizendo, em seguida, uma crise da realeza: "Graças às peculiares influências planetárias às quais [o Príncipe de Gales] está sujeito, ele sucumbirá a um caso de amor devastador. Se o fizer, eu profetizo que o príncipe desistirá de tudo, mesmo da chance de ser coroado, para não perder o objeto de seu amor.
  128. E isso foi exatamente o que aconteceu. Quando seu pai morreu, em 1936, o Príncipe de Gales subiu ao trono como Eduardo VIII, mas nunca foi coroado, e a coroação planejada foi cancelada porque ele abdicou do trono para não desistir da senhora Wallis Simpson, mulher duas vezes divorciada. Na época em que Cheiro publicou sua predição, o Príncipe de Gales não estava de forma alguma envolvido com a senhora Simpson - na verdade, parece provável que nem sequer a conhecesse. Cheiro profetizou também a criação do Estado de Israel e, ainda, escrevendo em 1930, uma guerra mundial dentro de dez anos
  129. aproximadamente: ''A Itália e a Alemanha [uma aliaa improvável à época em que Cheiro escreveu] estarão em guerra com a Fraa [...] os Estados Unidos estarão em guerra com o Japão e só mais tarde participarão da carnificina européia". Essas predições se revelaram corretas, embora não se tenha cumprido a profecia de que durante a guerra mundial que ele previa haveria uma guerra civil na Irlanda. Além de ser quiromante e astrólogo, Cheiro parece ter sido um "profeta natural". Uma das coisas mais desconcerrantes a respeito de profetas naturais como Cheiro e Nostradamus é que até mesmo autores de predições surpreendentemente exatas fizeram também previsões que se mostraram parcialmente ou mesmo totalmente incorretas. Talvez algumas vezes eles não visualizassem o futuro de nosso mundo, mas, sim, de universos paralelos cuja seqüência de tempo difere ligeiramente da nossa.
  130. Alguns comentaristas das Centúrias descreveram Nostradamus como o maior astrólogo de todos os tempos. É quase certo que eles estejam enganados, por se deixarem levar pela suposição de que todas as profecias corretas esboçadas nas Centúrias e outros escritos ao vidente tenham derivado de suas observações das mutantes posições do Sol, da Lua e dos planetas uns em relação aos outros e em relação aos signos do zodíaco. Nostradamus certamente utilizou a astrologia como um método taquigráfico de expressar datas (ver páginas 238-41), mas não para extrair os prognósticos em si. Não é possível que ele se tenha baseado apenas na astrologia para fazer suas profecias. Isso está provado acima de qualquer dúvida por um simples fato indicado por Charles Ward, comentarista do século 19, de que o vidente "menciona o nascimento de pessoas que nasceram após a sua morte [...] a astrologia judiciária (13) não poderia ser de nenhuma ajuda nesses casos, pois começa com um horóscopo que pressupõe o nascimento".
  131. 13. N. da T.: Judiciária: arte, saberes de judiciário ("astrólogo"), adivinho. Em outras palavras, embora Nostradamus tenha sido inquestionavelmente um astrólogo (afinal, foi o compilador de alguns almanaques) e pelo menos algumas de suas predições possam ter sido parcialmente feitas com base na astrologia, ele deve ter sido também um vidente talentoso, e, na verdade, aventa-se que ele utilizava drogas psicodélicas para induzir transes em que suas habilidades de clarividência podiam operar mais livremente.
  132. Entretanto, a questão mais controversa, no que se refere às faculdades clarividentes de Nostradamus, não é se essas faculdades eram ou não potencializadas por drogas. A questão é se elas eram suplementadas pelo uso de métodos relativos à magia cerimonial, à divinação ritual e a outras artes secretas e proibidas. A possibilidade de que Nostradamus tenha sido um participante de rituais mágicos, talvez de natureza pagã, foi indignadamente refutada por alguns daqueles que devotaram anos de intenso estudo sobre a vida e os escritos do vidente de Salon. Esse foi o caso, especialmente, daqueles autores inclinados ao catolicismo ultramontano, que esteve associado ao monarquismo francês desde 1870. E no entanto também existem, há muito tempo, aqueles que consideram possível que Nostradamus tenha sido de fato um mago versado, um homem que, como o escritor Eliphas Levi (1810-1875), empenhou-se numa ginástica mental que lhe permitia combinar uma lealdade qualificada à Igreja com o emprego de certas técnicas derivadas de antigas tradições secretas. Parece provável que mesmo na época do vidente tenha havido aqueles que suspeitavam o mesmo, pois em uma passagem que Nostradamus imprimiu no prefácio à primeira edição das Centúrias, ele parecia querer afastar qualquer suspeita de que transitava por artes ocultas duvidosas. Nessa passagem, ele alerta solenemente seu filho contra os perigos da "magia execrável" e dá a entender que presta contas de como ele próprio tinha destruído tratados impressos ou manuscritos dedicados à magia ritual e, por implicação, à alquimia. Entretanto, como se demonstrará nas páginas a seguir, há boas razões para suspeitar que essa sua denúncia de "magia execrável" era mais do que insincera.

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